Maior processo da história da canábis medicinal em cheque

A Medical Marijuana Inc., empresa da qual a Hemp Meds é subsidiária, abriu processo na justiça em busca de uma indenização de 100 milhões da instituição sem fins lucrativos Project CBD. Segundo a documentação do processo, o relatório “Hemp Oil Hustlers”, resultado de uma pesquisa da Project CBD sobre a Medical Marijuana Inc. e empresas relacionadas, deixou propositalmente de citar o resultado final de um teste laboratorial feito com uma amostra de RSHO, principal produto da empresa, a fim de prejudicá-la.

A alegação, no entanto, não é verdadeira. O relatório menciona tanto o resultado que a Medical Marijuana Inc. chama de preliminar, indicando presença de metais pesados no RSHO, quanto o resultado final, indicando os níveis de metais pesados dentro dos padrões aceitáveis. A seguir, o trecho do relatório “Hemp Oil Hustlers” no original em inglês e a tradução para o português (a questão é tratada entre as páginas 17 e 19 do relatório):

“The initial results appeared to confirm [that] the RSHO contained high levels of several heavy metals, including nickel, selenium, molybdenum, arsenic, and silver. A few days later, Stewart Environmental Consultants issued a second report that contradicted its earlier findings: Five numbers, all pertaining to heavy metal toxins, were changed from unsafe to safe levels.”

Os resultados iniciais pareciam confirmar que o RSHO continha altos níveis de diversos metais pesados, incluindo níquel, selênio, molibdênio, arsênico e prata. Alguns dias depois, Stewart Environmental Consultants (laboratório onde o teste foi realizado) publicou um segundo relatório contradizendo os resultados anteriores: cinco números, todos relacionados a metais pesados tóxicos, foram alterados de níveis não seguros para níveis seguros.

O relatório “Hemp Oil Hustlers” questiona as motivações que levaram o laboratório a duvidar do primeiro resultado e a usar o mesmo cientista para fazer a segunda análise, já que é protocolo que outro cientista realize o segundo teste quando o primeiro é considerado insatisfatório. Eles também questionam o motivo pelo qual somente os resultados negativos divergiram no segundo teste.

O processo encaminhado pela Medical Marijuana Inc. não menciona outro teste laboratorial realizado pela Project CBD e citado em seu relatório sobre a empresa, que acusava a presença de solventes químicos tóxicos. A Medical Marijuana Inc. também não refutou nenhuma das outras alegações presentes no relatório, como as práticas administrativas duvidosas da empresa e os processos de fraude nas quais seu corpo administrativo está envolvido.

Por que estaria uma empresa multimilionária processando uma instituição sem fins lucrativos por 100 milhões de dólares com uma acusação sem base? A Project CBD acredita que a Medical Marijuana Inc. esteja tentando convencer seus clientes e investidores de que as acusações feitas são falsas, legitimando-se com processos como esse. A Medical Marijuana Inc. afirma que foi prejudicada pela Project CBD e acusa Martin Lee, responsável pelo dossiê da empresa, de maliciosamente conspirar contra ela, com intenção de interferir com uma prospectiva vantagem nos negócios.

A Project CBD abriu recurso na justiça para que o processo não seja julgado. Se o processo seguir em frente, será a primeira grande batalha legal no mercado da maconha medicinal.

Leia “Hemp Oil Hustlers” na íntegra: http://www.projectcbd.org/news/hemp-oil-hustlers-a-project-cbd-special-report-on-medical-marijuana-inc-hempmeds-and-kannaway/

Leia o processo aberto pela Medical Marijuana Inc.: http://www.projectcbd.org/wp-content/uploads/2015/04/37-2014-00036039-CU-DF-CTL_ROA-8_01-16-15_Amended_Complaint_1430360415996.pdf

Leia o recurso solicitado pela Project CBD: http://www.projectcbd.org/wp-content/uploads/2015/04/98806258_v-1_2015-04-28-Defendants_-Anti-SLAPP-Motion-to-Strike.pdf

 

Hemp Meds agindo ilegalmente no Brasil?

Envolvida em diferentes escândalos nos Estados Unidos, a Hemp Meds – ou Midway Meds, como às vezes gosta de ser chamada – tem agido de maneira inconsistente com a legislação brasileira e as regras da Anvisa para a comercialização e  marketing de produtos. A afirmação a seguir foi retirada da página da Midway Meds no Facebook:

“A Midway Meds tem como missão “Desenvolver, produzir, comercializar e distribuir medicamentos com base em CBD de mais alta qualidade e confiabilidade, promovendo saúde, segurança e bem-estar à população”.”

O grande problema nesta frase está na palavra “medicamento” e nas expressões: “promovendo saúde, segurança”. Conforme afirma a própria Hemp Meds, a empresa não produz medicamentos, pois não efetuou os testes necessários para a aprovação de um produto farmacêutico, seja ele fitoterápico ou não. Não há prova de eficácia e segurança para que esses produtos sejam farmacêuticos. Nos Estados Unidos, os produtos da Hemp Meds, Midway Meds e todas as outras subsidiárias são vendidos como suplemento alimentar.

A seguir, printscreens do site americano, que foi bloqueado para acessos no Brasil (quando se tenta acessá-lo do Brasil, o internauta é automaticamente encaminhado para o site brasileiro):

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O site afirma que a FDA (Anvisa americana) não avaliou os produtos da empresa com a intenção de tratar, diagnosticar ou curar doenças. Esses “medicamentos”, portanto, não são medicamentos e a empresa não pode alegar que são. As regras da Anvisa não são diferentes da FDA:

“A inspeção nas linhas de produção de medicamentos é um meio para comprovar seu funcionamento em acordo com padrões que garantem a qualidade dos produtos. Na inspeção, a linha de produção deve estar condizente com a descrição detalhada do processo de produção e com as metodologias de controle de qualidade nas diferentes etapas. O perfil de segurança e eficácia é obtido por meio da análise dos ensaios clínicos (fase 3) de produtos novos ou da revisão bibliográfica de utilização em diferentes subgrupos populacionais em produtos de uso tradicional.”

Os produtos da Hemp Meds não passaram por nenhum desses processos no Brasil. Assim, ao afirmar valor medicamentoso sem uma licença de marketing obtida junto ao órgão competente, a ação da empresa pode ser qualificada como propaganda enganosa.

Já no site brasileiro, onde o usuário pode comprar os produtos, a empresa é um pouco mais cuidadosa, mas ainda assim sugestiva. Sempre que alega valor medicinal, o site usa a palavra “CBD”, ou “canabidiol”, evitando o link direto entre o produto e o uso como medicamento. Ainda assim, imagens de médicos e informações sobre as “famílias RSHO”, que usaram o produto com fins terapêuticos, passam a mensagem de que se trata de um produto farmacêutico. O site, no entanto, possui um discreto link para a página da Hemp Meds no Facebook, onde constam as seguintes informações:

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A empresa parece se beneficiar da rara fiscalização e denúncia de desvio de conduta que acontece no Brasil. As páginas do Facebook podem ser rapidamente removidas caso haja alguma reclamação ou processo, e a Hemp Meds dificilmente será punida.

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Atitudes como essa demonstram quão irresponsáveis podem ser as atitudes de corporações internacionais em busca de lucro. Diversas famílias confiam na qualidade dos produtos da Hemp Meds e na transparência da empresa, que parece tentar confundir o público, ora se referindo a seus produtos como alimento, ora como remédio.

Sobre Drogas e Remédios

i227974No dia 15 de janeiro de 2015, atendi o celular sem reconhecer o número na tela. O Dr. José Alexandre Crippa nunca havia me passado seu número de celular, insistia no número do escritório onde eu nunca o encontrava. Meses após tentar entrevistá-lo – sem sucesso – Crippa me ligava em meu celular, educadamente perguntando se eu tinha tempo para ouvi-lo. Teria ele mudado de ideia? Por que, de repente, uma jornalista independente, sem qualquer vínculo com uma grande emissora, valia uma ligação? Quem sabe a decisão da Anvisa no dia anterior em reclassificar o CBD tivesse liberado seu stress e sua agenda e ele finalmente poderia me conceder aquela entrevista.

Ele me chamou pelo nome, Susan, e começou a falar, soava animado. Crippa dizia não poder estar mais feliz com a decisão da Anvisa. Era hora de colocar as mãos na massa, dizia. Entranhei o tom familiar com que me contava essas coisas, mas continuei ouvindo, ainda tentando compreender o propósito da ligação. Ele estava no aeroporto de Brasília, aguardando seu voo, e me contava sobre seus planos, os próximos passos a serem tomados. Estava muito contente em anunciar uma parceria com um laboratório europeu e que viajaria em breve a Edimburgo para buscar 1 kg de CBD.

“CBD natural ou sintético?”, perguntei, ainda confusa, mas curiosa. Ele pausou por um segundo, não esperava a pergunta, mas resolveu explicar. “É um semissintético”, disse. “E você pretende fazer testes clínicos com ele?”, perguntei em seguida. Crippa explicou que testes clínicos não seriam necessários, ele usaria o medicamento em pacientes para registrar os resultados; já estava tudo encaminhado. Ele disse algo sobre eu ter sido selecionada, junto com outros. Ele sabia quem eu era? Me chamara pelo nome, não podia estar me confundindo com outra pessoa ou ter ligado no número errado. Prossegui com minhas perguntas: “Mas, se as crianças com epilepsia têm usado extratos naturais, com outros canabinoides, não é possível que o CBD isolado não funcione?”.

Crippa então me explicou que esse era um argumento usado para enganar as pessoas: “Tem um grupo de pessoas que querem legalizar o recreativo e são contra o puro, porque aí cai o argumento deles”. Decidiu usar os irmãos Stanley (donos de um dispensário no Colorado) como exemplo, afirmando que eles têm uma “fabriqueta quase artesanal” e que eles usam o argumento de que o THC é necessário por interesse comercial, já que o produto que eles têm possui cerca de 1% de THC. Crippa explicou que, como o produto deles é natural e, portanto, impuro, eles têm interesse em publicar que outros compostos são necessários.

Ele disse ainda que muitos usam o argumento de que há um “efeito comitiva” (efeito em que os componentes de uma planta, após ela ter sido consumida, interagem entre si no organismo humano, agindo de forma diferente desses mesmos componentes isolados) no produto natural, mas que isso não é aceito na academia. Segundo ele, não há provas científicas desse efeito, já que todos os estudos foram feitos com CBD isolado. Como os dispensários não conseguem fabricar o CBD isolado, porque sai muito caro, eles se posicionam contra. Todos os estudos sérios – e Crippa exemplifica aqui seus estudos usando o CBD isolado para o tratamento de Parkinson – foram desenvolvidos com componentes isolados.

Dr. Crippa então declarou, com ar triunfante, que “estamos muito próximos de ter um sintético no Brasil”. Haveria uma coletiva de imprensa em março para anunciar avanços nesse sentido. Ele assegurou que testes seriam necessários e que ainda levaria um tempo para ter tal medicamento disponível. Para que testes assim fossem desenvolvidos, precisaríamos de um sintético, já que “como não tem patente, o canabidiol não é de interesse da indústria farmacêutica”. Uma parceria com a indústria seria necessária para desenvolver os caríssimos testes clínicos, já que, nem eles em Ribeirão Preto (USP) conseguiriam arcar com esses custos, mesmo que obtivessem lucro no resultado.

Ele tem toda a razão. A indústria farmacêutica não tem qualquer interesse em fitoterápicos. Plantas não podem ser patenteadas, seus extratos podem ser produzidos por qualquer pessoa e, portanto, não há lucros bilionários a serem alcançados. Componentes sintéticos são outra história, mas são moléculas novas produzidas em laboratório e precisam de todo tipo de testes para serem aprovadas. O processo pode durar dez anos, talvez menos tempo se for acelerado. Uma das patentes de Crippa (de 2014) é o CBD fluorado, uma molécula me-too. Essas moléculas tendem a fazer a mesma coisa que a molécula que imitam, mas, por causa desse flúor que foi pendurado nela, pode ter interações diferentes no organismo, como aumentar ou diminuir a potência de seus efeitos. Estaria o médico contando com a pressão de pacientes desesperados na justiça e na imprensa para acelerar a aprovação de sua droga? Crippa disse ainda que os pais e pacientes podiam pressionar as autoridades para que o medicamento, depois de disponível, ficasse mais barato. Medicamentos recém-lançados, no auge de sua patente, costumam ser caros.

Ele voltou então a explicar que os extratos naturais eram perigosos, por dois motivos. O primeiro deles é que “ficamos preocupados com as impurezas”. Segundo o doutor, até mercúrio já foi encontrado nesses extratos importados. Ele diz não saber se os rumores são verdadeiros ou não, mas que há uma série de contaminantes nesses produtos, especialmente os vindos da China. Outro motivo para não aprovar os extratos naturais é a presença do THC. Segundo ele, o THC, em grandes quantidades pode causar convulsões nas crianças. Lembrei-me de ter ouvido esse argumento antes, não de estudos científicos (não há nada na literatura acadêmica indicando que o THC possa induzir convulsões, mas sim que o composto tem grande potencial para tratar doenças convulsivas), mas de mães assustadas. Crippa dizia que várias crianças que usaram medicamentos com THC voltaram a ter crises convulsivas violentas. Teria sido ele o responsável por espalhar esse rumor?

Exemplo de estudo indicando que a canábis tem efeito positivo em pacientes com convulsões:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2376682/?page=3

Ele também explicou que o THC em crianças pode aumentar a probabilidade de esses pacientes desenvolverem esquizofrenia, fazendo questão de citar o mesmo estudo sueco que cita em suas entrevistas. Essas conclusões são o que chamamos de “Bad Science”. Estudos que verificaram a relação entre o uso de canábis e esquizofrenia foram desenvolvidos (para simplificar bastante) de duas formas: contando quantos esquizofrênicos foram expostos ao uso da canábis ou quantos usuários de canábis desenvolveram esquizofrenia. De fato, há uma relação, já que muitos usuários de canábis desenvolvem esquizofrenia. Isso pode significar que a canábis causa esquizofrenia ou que pessoas com tendência à esquizofrenia têm propensão ao uso de drogas, sobretudo a maconha. Estudos longitudinais, no entanto, verificaram que o aumento no número de usuários de canábis na população não está relacionado a um aumento no número de esquizofrênicos. Ou seja, a relação entre a canábis e a esquizofrenia não é causal.

No entanto, alguns estudos concluem que a exposição à canábis leva ao aparecimento de esquizofrenia pacientes que de outra forma não a desenvolveriam. Alguns chegam até a determinar a relação entre a dosagem e a probabilidade dos sintomas psicóticos ocorrerem. É a ciência da imaginação. Podemos correlacionar qualquer coisa desta forma. O site de Tyler Vigen dá diversos exemplos disso, demonstrando que as conclusões mais absurdas podem surgir da má interpretação estatística. O link abaixo, por exemplo, mostra a correlação entre o número de afogamentos em piscinas e o número de filmes em que Nicolas Cage aparece. Podemos concluir que os filmes de Nicolas Cage causam afogamentos?

http://www.tylervigen.com/view_correlation?id=359

Temo que Crippa saiba disso tudo. Um estudo desenvolvido em 2014, que conta com a participação do médico, determinou que tanto o CBD quanto o Win 55212 (análogo sintético do THC, mas com potência superior) ajudam a reverter quadros psicóticos em modelos animais (ratos) de esquizofrenia. A seguir, o link para o estudo:

http://journal.frontiersin.org/Journal/10.3389/fphar.2014.00010/abstract

Existem ainda outros estudos (alguns em humanos, mas com um número pequeno de pacientes) em que a esquizofrenia foi tratada com THC apenas. Isso indica que a relação entre a canábis e distúrbios psicóticos é muito mais complexa do que Crippa tem afirmado, propositalmente dando a impressão de que o THC é perigoso, mas o CBD é bom, sozinho.

Eu havia conversado com diferentes famílias com crianças portadoras de epilepsia, e escutei que, em muitos casos, a presença do THC era necessária. Jason David, da Califórnia, conta que seu filho, Jayden, precisa de uma dose de THC superior a 1% para controlar suas crises. Plantas e extratos com doses menores não funcionaram. Contei o caso para o Dr. Crippa, que não se deixou abater com o argumento. Ele respondeu que seria uma questão de aumentar a dose de CBD, não haveria a necessidade do THC. Disse ainda que, no caso de um pai que não tem mais o que fazer, dar o extrato natural era a única alternativa. Nesses casos, era melhor que desse o medicamento impuro mesmo, mas Crippa estava confiante de que poderia fornecer uma alternativa superior com seu CBD isolado sintético.

Ele afirma, em seguida, que o THC não é tão perigoso para adultos e, portanto, também pretende desenvolver medicamentos com THC e CBD combinados para tratar, principalmente, a esclerose múltipla. Ele deixa claro, no entanto, que só quer desenvolver medicamentos “puros”, componentes isolados, nada natural. Apesar de ele ter afirmado que o efeito comitiva não era cientificamente aceito, ele menciona as interações entre o THC e o CBD e como elas podem ajudar o paciente.

A partir daí, Crippa passou a explicar procedimentos e perguntar sobre quais exames eu havia feito. Foi então que compreendi: “Acho que você está me confundindo com alguém, eu não sou paciente, sou jornalista”. Ele notou seu erro: julgando que falava com uma paciente, revelou uma série de informações sigilosas. Um comentário me chamou a atenção: “Bem que eu estranhei, você sabia tanta coisa”. Ele parecia bem consciente da falta de conhecimento de seus pacientes (não os julgo, é difícil mesmo encontrar informações confiáveis quando se trata de canábis) e ao notar que eu sabia um pouco mais passou a usar toda a sua habilidade argumentativa para me convencer de que o seu caminho era o mais indicado, o mais confiável. Talvez por isso advogava contra o THC com aqueles argumentos batidos.

Tentou então medir o estrago: “De que veículo você é?”. Expliquei que havia trabalhado em um projeto independente (se lembrou então de quem eu realmente era) e que não estava trabalhando pois me mudaria para a Inglaterra no mês seguinte. Achei que ele fosse entrar em pânico e desligar o telefone, mas foi muito educado. Crippa perguntou para qual cidade eu iria, já que ele mesmo fez pesquisas em Londres, me desejou sorte na carreira e, antes de desligar o telefone disse: “Eu falei algumas informações sigilosas para você, achando que era outra pessoa, não fala pra ninguém, tá?”.

Refleti sobre esse último pedido durante vários dias. Como jornalista, há um conflito ético com o qual eu teria que lidar. As informações caíram acidentalmente no meu colo, o que eu faria com elas? Pensei nas repercussões de revelá-las, conversei com algumas pessoas pedindo conselho. O peso de não revelar a estranha conversa, no entanto, parecia maior. Pacientes têm confiado na opinião de médicos, têm colocado suas esperanças na indústria, diversas pessoas foram iludidas a pensar que um medicamento natural era perigoso. Milhares de brasileiros estão sem tratamento hoje, enquanto um remédio eficaz poderia estar plantado em seus próprios quintais, de graça. Enquanto isso, pais perdem seus filhos para convulsões excessivas; famílias perdem entes queridos para o câncer, esclerose múltipla, Aids; pacientes sofrem desnecessariamente dores crônicas que os invalidam.

A decisão da Anvisa favoreceu o caminho mais longo, não necessariamente mais seguro, e mais lucrativo para a indústria. Enquanto a forma natural da canábis estiver proibida, a maior parte da população não terá acesso a esse tratamento. Enquanto as pessoas não tiverem informações sobre o assunto, a erva permanecerá proibida para uso medicinal. Eu não me perdoaria se segurasse informações e favorecesse esse caminho.

A regulamentação da maconha pode ajudar a economia do Brasil

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A frase pode soar estranha, mas não é loucura. Estamos à beira de uma crise econômica grave. Com a Copa do Mundo, a tendência é piorar. Enquanto o governo faz questão de iludir a população, dizendo que a Copa ajudará a economia instável do país, os economistas dizem o contrário.

Em entrevista para a Época, o professor de finanças da FGV, Luís Carlos Ewald, afirma que: “Todo mundo diz que a Copa vai ser muito boa para o Brasil. Mas depois que o evento passar, não haverá mais investidores no país, pois estão todos com medo”. Os investidores não são bobos. Quem quer investir em uma economia instável, com a inflação correndo solta e o risco de o Governo Federal interferir no seu negócio a qualquer momento? A burocracia e o câmbio flutuante também espantam multinacionais, que temem perder seus investimentos. Além disso, um monte de dinheiro entrando no país em junho e julho e depois sessando, só tem um resultado certo: mais inflação. A Copa se tornou suicídio econômico, não houve investimentos significativos no transporte, saúde, estradas. O resultado é uma crise econômica.

Os investimentos em estradas e portos, para o transporte de mercadorias pelo Brasil, não foram suficientes. As importações chegam a ritmo lento e o trânsito de caminhões só piora. Com a canábis, esse problema pode não interferir. A justiça liberou pela primeira vez a importação de um remédio derivado da canábis para a menina Anny Fischer, de Brasília, mas o custo da importação é alto e o transporte lento. As taxas alfandegárias são ridiculamente altas, reflexos do protecionismo brasileiro. Outras crianças não terão acesso porque a epilepsia não atinge somente famílias com alto poder aquisitivo. O problema, no entanto, tem fácil solução.

Regulamentando a produção e venda da canábis em território nacional, uma série de pequenos negócios locais surgiria da noite para o dia no Brasil, como aconteceu na Califórnia em 1996, e recentemente no Colorado. Com a legalização, o Colorado faturou um milhão de dólares por dia, enquanto o estado da Califórnia, que passava por uma crise financeira nos anos 90, passou a ser o oitavo estado mais rico dos Estados Unidos, explica Aseen Sappal, coordenador da Oaksterdam University, em Oakland.

Como a canábis pode ser produzida em qualquer lugar do Brasil, dentro ou fora de casa, os consumidores não precisam ir muito longe para obter sua mercadoria. Como os custos de uma canábis produzida localmente sai bem mais baixo, pois não precisa passar pelo alto custo do transporte, o consumidor vai preferir o produto local à importação, da qual os preços cobririam, inclusive, a burocracia portuária, pedágios, tempo de entrega, gasolina etc.

A canábis também ajuda pessoas que poderiam estar inválidas a continuar trabalhando e ter uma independência financeira. Esse é o caso de Gilberto Castro, que consegue se livrar dos espasmos causados pela esclerose múltipla graças à maconha. Ele fuma pela manhã, antes de ir trabalhar e à noite, quando chega em casa. De outra forma, ele afirma que não conseguiria continuar trabalhando como designer gráfico, pois mal conseguiria usar o mouse do computador.

A falta de investimentos na saúde, portanto, são aliviados com a regulamentação da maconha, que pode até substituir, em muitos casos, remédios caríssimos disponíveis nas farmácias. Isso pode até, quem sabe, diminuir os gastos públicos com os remédios distribuídos gratuitamente através do SUS, conforme pessoas optem por usar a canábis como forma de tratamento. Os produtos à base de canábis também podem ser distribuídos de diversas formas – comestíveis, vaporizados, plantas híbridas – o que garante uma grande variedade de produtos e uma concorrência livre, que dificilmente cairá nas mãos de monopólios, especialmente se esse mercado for devidamente regulado.

Com a regulamentação, serão recolhidos impostos com as transações, o que não acontece com o mercado ilegal de drogas. Com isso, pode-se decidir o destino do dinheiro gerado pela venda da canábis, como a melhoria de hospitais e escolas. Serão economizados, ainda, milhões de reais em recursos para sustentar a falida guerra contra as drogas. Isso também diminuiria o crescimento da população carcerária, que custa milhões ao Estado e está repleta de usuários e traficantes de drogas.

A canábis também é capaz de produzir cânhamo, um material natural, de extrema resistência, que pode produzir tecidos, carros (Ford produziu o primeiro carro de cânhamo no início do século XX) e até combustível, sem prejudicar a natureza. Segundo Cris Conrad, autor de diversos livros sobre a canábis, a planta é capaz de absorver toxinas do solo, ajudando a combater solos contaminados. Ele também explica que o cânhamo, além de produzir tecidos de melhor qualidade, é mais aproveitável que o algodão, ou seja, são necessários menos hectares de área plantada para produzir a mesma quantidade de tecido.

A canábis, portanto, ajuda na saúde, no meio ambiente e, principalmente, na economia decadente do Brasil. Pena que não atrai votos. Então, eu faço questão de apontar: nas eleições para presidente desse ano, voto no primeiro candidato a apresentar um plano sensato de regulamentação das drogas.

De Frente Pro Crime

20140315_180944Coloquei a cabeça pra fora da janela assim que ouvi os tiros, o máximo que as redes de segurança permitiam. Meu marido veio em seguida.

– Tá vendo a polícia? – perguntei.

– Sim, vamos lá ver, pega o celular.

Descemos correndo e logo nos deparamos com o corpo de um bandido, morto a tiros pela polícia após uma perseguição. Mais a frente encontramos uma BMW que havia batido em um poste, e outro criminoso deitado no chão, com um tiro na perna, mas vivo. Aparentemente, um terceiro fugiu.

Me lembrei da música de João Bosco, “De Frente Pro Crime”. Em versos, o cantor descreve um cadáver na rua, que atrai aquela rodinha de curiosos e, em seguida, está todo mundo no bar. Camelôs aproveitam a multidão para vender suas mercadorias, outros oportunistas fazem discursos políticos. Eventualmente todos vão embora e esquecem do ocorrido. E fica lá o corpo estendido no chão.

Os tiros mal sessaram e a cena do crime já estava repleta de expectadores, saindo dos prédios e casas da vizinhança. Mais carros da polícia se aproximavam, aos poucos cercaram o local com seus veículos e as faixas preto-amarelas. O fato de eu não ter sentido nada – nenhum calafrio, nojo, horror ou pena – me perturbou um pouco. Esse tipo de situação se tornou tão comum que o que atrai as pessoas é mais a curiosidade mesmo. Até mesmo crianças corriam soltas do outro lado da rua, sem medo do cadáver, apontando dedos e fazendo sons de “Pah! Pah!”.

Comecei a ouvir os comentários dos meus vizinhos, e foi isso que acabou me chocando. Ouvi de duas mulheres proferirem as seguintes palavras:

– Um bandido a menos pra eu me preocupar!

– Bandido bom é bandido morto, ótimo trabalho da polícia.

O mesmo discurso se repetiu uma, duas, três vezes, e continuou se repetindo até que os sons dos helicópteros do Brasil Urgente, Globo News e mais alguns noticiários desaparecessem. Mas eu não parava de me perguntar: quando foi que o policial virou carrasco? Quando foi que um bandido comum passou a merecer a pena de morte?

Vai ver fui eu que perdi a coisa toda. Nós nunca saímos da era medieval. Nem na época em que João Bosco abriu a janela, nem agora. É tudo preto no branco, se é criminoso, merece morrer. Ninguém vai pensar na coisa como um todo, ninguém vai lembrar que já cometeu erros, ninguém vai querer saber se o cadáver tinha família, quais eram suas motivações, se teve escolha. Cada um colhe o que plantou.

E o que eu plantei? A indiferença. Me senti melhor ao saber que não plantei tanto ódio quanto os meus vizinhos, mas isso não faz da minha situação nem um tantinho melhor que a deles. Estamos todos presos nesse ciclo vicioso, não há causa para o problema e não há solução. Participamos ativa e passivamente de um sistema torto onde aprovamos assassinatos punitivos, deixamos a corrupção e a brutalidade acontecer, aceitamos a vida como ela é e seguimos em frente. Refletir sobre uma situação banal como essa dá muito mais trabalho e dói.

Sem pressa foi cada um para o seu lado, pensando em uma mulher ou em um time. Olhei o corpo e fechei minha janela de frente pro crime.

O Mesmo

Depois de amarrar precariamente o saquinho do Sonda, saí para o Hall do andar e apertei o botão do elevador para levar o lixo para baixo. Meu prédio não tem uma lata de lixo por andar, a coleta é feita toda no térreo e os barris de plástico estão sempre cheios. Me distraí por um instante e, quando me dei conta, havia um sujeito parado ao meu lado. Julguei ser um vizinho esperando o elevador e cumprimentei-o, sem me virar completamente. O sujeito era pálido e tinha cabelos pretos, como pude observar pelo canto do olho, e pareceu não me responder. Sabe como são essas conversas de Hall de elevador, mais murmúrios que palavras. Esperaríamos até entrar na caixa metálica para mencionar o tempo, é claro.
Quando o elevador chegou, entrei e me virei para a porta. O sujeito não entrou, continuava fitando a porta aberta e, consequentemente, me observava do lado de dentro. Notei seu olhar vazio, olhos claros e uma roupa casual. Imaginei que estava esperando alguém, a esposa, talvez, e não perguntei se entraria. Apertei o botão do Zero e as portas se fecharam automaticamente. Já no térreo, deixei o lixo rapidamente e voltei ao elevador, que continuava parado. Ninguém o havia chamado. Apertei o botão do quinto andar e esperei ver meu vizinho novamente, já que aquele era o único elevador do bloco.
Quando as portas se abriram, não havia ninguém no hall. Foi quando me veio um pensamento tenebroso que me fez andar apressada até a porta do meu apartamento, chegando a correr um pouquinho ao final e fechar a porta com violência. Meu marido, assustado com o barulho da porta batendo, veio até a sala e se deparou com a minha expressão sombria. Ele nunca tinha me visto daquele jeito e perguntou o que eu tinha.
– Eu vi o Mesmo – respondi – tenho certeza.

Tendal da Lapa: da cultura ao descaso

Há 22 anos o Espaço Cultural Tendal da Lapa, localizado na região Oeste da cidade de São Paulo, promove 24 oficinas culturais gratuitas para a população, entre elas aulas de música, teatro, dança e artes plásticas. Atualmente o Tendal é a maior casa de cultura da cidade, ocupando aproximadamente 7.400 m² de um prédio histórico da região. A prefeitura de São Paulo é detentora do espaço.
Observando que o Tendal não era suficientemente divulgado, nos encaminhamos ao local com a intenção de obter informações sobre as oficinas e divulgar para a região onde ela é localizada. Fomos surpreendidas pelo fato da coordenação estar ausente em um dia de trabalho, no meio do expediente. “O horário do coordenador é a partir das 10:00”, nos informou a segurança do local, “mas umas 13:00 horas é garantido que ele vem”.
Esperamos até as 15:00 apenas para descobrir que ele não viria mais. Indagamos sobre seus horários durante a semana e notamos que ele não costuma aparecer com regularidade. Voltamos em um outro dia, no horário indicado pela segurança, no qual ela tinha certeza que ele estaria trabalhando. O coordenador, Marcos Ozzetti, no entanto, não quis responder a perguntas, alegando estar muito ocupado com e-mails. Conseguimos marcar uma reunião com Marcos, em um dia e horário de sua escolha, mas ele não apareceu. Em outros momentos ainda de insistência, não conseguimos falar com ele. Do que ele fugia?
O espaço do Tendal da Lapa, mesmo após mais de duas décadas de história, ainda passa por muitas dificuldades, como a falta de recursos para os alunos. Por isso, de acordo com Alessandro Cristiano Bolinda, que faz aula de teatro há um ano no local, cada grupo deve realizar uma contribuição para o espaço ocupado: “Tem grupos que colocam os panos, outros que colocaram a madeira no chão, entre outros. O grupo de teatro foi o responsável pelas lâmpadas dos banheiros”.
Como a entrada não é chamativa, a maioria das pessoas que entra pela Rua Guaicurus não está interessada nas atividades oferecidas e nem sabem o que o lugar contém, entram apenas para se informarem da localização do Poupatempo. Enquanto esperávamos em vão pela coordenação do Tendal, cinco pessoas, em um período de 30 minutos, nos fizeram a mesma pergunta: “É aqui que é o Poupa-tempo?”. Não demorou muito para aprendermos a dar instruções sobre como chegar lá.
Mas não é apenas na entrada que o Tendal da Lapa é descuidado. Passando pelo portão principal as pessoas já conseguem observar muros pichados e jardins mal cuidados. Adentrando um pouco mais, encontram-se entulhos empilhados no chão sujo, banheiros sem travas na porta (ou até mesmo sem portas) e uma folha rasgada de papel sulfite ao lado do bebedouro com os dizeres: “Recomendamos aos frequentadores das oficinas e aos integrantes de grupos que ensaiam no Tendais, que tragam seus copos ou garrafinhas próprias , devido à insuficiência de copos para abastecer os bebedouros”.
Além da falta de infraestrutura básica para abrigar aqueles que o frequentam, o Tendal sofre com a falta de divulgação. Os funcionários da Lanchonete Princesa Romana, por exemplo, localizada a um quarteirão do local, na esquina da Rua Roma com a Rua Catão, desconhecem o lugar.
Para a divulgação, a Prefeitura da cidade de São Paulo conta apenas com o blog tendaldalapa.blogspot.com.br. João Edson, professor de Samba Rock, diz: “Eu sou funcionário da Prefeitura, mas os outros funcionários não sabem que existe esse espaço. Convidamos nossos amigos para fazer aula, mas nenhum conhece”.
Gisele Cristiane Martins, professora de Artes Plásticas do Tendal, também comenta sobre o assunto: “Tem muitos alunos aqui, então as pessoas ficam sabendo através do boca a boca. Os alunos que passam o Tendal pra frente. Eu tenho aluno de longe, tenho aluno da Penha, do Jardim Imperador, da Vila Formosa, de várias regiões, que ficaram sabendo porque alguém fez aula e indicou”.
Porém, mesmo com a falta de infraestrutura adequada e divulgação, os que participam das aulas, gostam muito do lugar.
De acordo com João Edson, todos os professores são voluntários: “Eu sou funcionário da Prefeitura, mas não tem nada a ver. A gente faz porque a gente gosta. Aqui tudo é de graça. A gente gosta, faz muitas amizades. Se você faz aula é porque tem algum problema, seja de saúde, financeiro, pessoal, aqui você tem duas horas de distração”.
Aos finais de semana, uma atividade se destaca no Tendal: a aula de informática. Frequentado por, na maioria, idosos, o curso visa ensinar as pessoas a usarem o computador. A aluna Maria de Fátima Pereira (61), diz estar aprendendo muito com essas aulas: “Eu sou secretária de dentista, então preciso usar o computador. A Tamires (professora) ajuda muito a gente, ela tem muita paciência. Cada dia a gente aprende uma coisinha nova”.
Além de ser a atividade mais concorrida (com vagas que acabam em menos de duas horas), a aula de informática tem outra particularidade, é a única que está vinculada à Prefeitura, sendo parte de outro órgão público que oferece ações sociais como essa. A professora de informática é funcionária da prefeitura, mas nem ela e os computadores não estão ligados ao Tendal, que só permite que a sala seja utilizada.
Mesmo esse curso acontecendo aos sábados, os dias úteis são os que reúnem a maior parte dos alunos que, de acordo com João Edson, frequentam o Tendal no período da noite: “O Tendal sempre foi forte. Sempre teve muita gente aqui, mas depende muito do horário. Durante a semana, das 18h às 22h o lugar fica superlotado”.
A falta de recursos não impediu que dezenas de pessoas, ainda que muitas delas passem por dificuldades, tocassem o Tendal da Lapa para frente. A boa vontade dos voluntários e alunos fez dessa casa de cultura um segundo lar para diversos moradores da cidade de São Paulo.

obs: O texto foi escrito em conjunto com Priscila Zucas.

Aeroportos não estão preparados para receber a Copa do Mundo em 2014

Pilotos e comissários de diferentes companhias aéreas temem pelo pior

O Brasil foi selecionado para receber tanto a próxima Copa do Mundo de Futebol, em 2014, quanto as Olimpíadas de 2016, dois grandes eventos esportivos internacionais. O Ministério do Esporte estima que somente a Copa do Mundo atraia 3,7 milhões de turistas para o País entre junho e julho do ano que vem. Existe, no entanto, uma preocupação por parte de profissionais da aviação sobre a falta de preparação dos aeroportos para receber tal número de visitantes.

O problema

Os números assustam. Segundo um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas, estima-se que o fluxo de turistas aumente 79% entre 2011 e 2014 devido à Copa, o que excede a capacidade de muitos dos aeroportos das cidades onde o evento acontecerá. Em 2001 já se utilizavam 65% dos assentos oferecidos por companhias aéreas, tanto para voos nacionais quanto internacionais, no total dos aeroportos brasileiros. Nos últimos 10 anos, poucas melhorias ou ampliações foram efetuadas, enquanto que a demanda por voos tem crescido anualmente (com exceção de uma diminuição de 5 % na demanda entre 2002 e 2003) desde então.

Rodrigo Constantino, autor do livro “Privatize Já” (2012), afirma que “um estudo da McKinsey de 2010 estimou em 20 bilhões de dólares a necessidade de investimento dos 20 principais aeroportos brasileiros”. Ainda em sua obra, Constantino afirma que “segundo a instituição Contas Abertas, os aeroportos brasileiros receberam, em valores atualizados, somente 4,3 bilhões de reais em investimentos entre 1995 e 2010, o equivalente a menos da metade do orçamento aprovado”.

Do ponto de vista dos aviadores

Pilotos, comissários e outros profissionais da aviação notam a diferença que a falta de investimento faz. Um comandante da TAM, que não quis ser identificado, diz ter “a mesma opinião de 99,9% dos aviadores”, de que os aeroportos estão longe de estar preparados para a Copa do Mundo. Um grande problema, segundo ele, é a saturação dos aeroportos: “Você pode ver em ‘feriadões’, época de festas de fim de ano, Carnaval e férias que já não há mais como aeroportos suportarem a demanda; não há vagas nos estacionamentos, banheiros suficientes, posições de check-in e nem mesmo lugar para sentar”. O comandante afirma conhecer todos os aeroportos das cidades onde os jogos acontecerão e diz que “com muito esforço, somente o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, o Galeão, no Rio, o Confins, em Belo Horizonte, e o aeroporto de Brasília teriam o mínimo de condição” para receber os turistas. Isso se as reformas já tivessem sido concluídas, ele faz questão ressaltar.

Um piloto da ABSA Cargo, diz que em São Paulo, onde estão localizados “os dois aeroportos mais movimentados da América do Sul”, Cumbica e Congonhas já estão “saturados com o volume normal do dia-a-dia de tráfego aéreo”. Segundo ele, um grande evento como a Copa congestionará ainda mais esses aeroportos, “tanto no âmbito aéreo como na estrutura de pátios”. Ele afirma ser comum pousar e ficar aguardando nas “taxiways” pela liberação de um local para estacionar a aeronave, o que pode ser um risco para a segurança.

 

Os profissionais da aviação entrevistados concordam, unanimemente, que já é tarde para se aplicarem soluções de real efeito no caso dos aeroportos. Carolina Santos, comissária da TAM, trabalha em voos internacionais e usa o aeroporto de Guarulhos com frequência. Ela acredita que Cumbica está operando “acima de sua capacidade” e menciona a construção do terminal 4 “chamado de puxadinho”, que “tem deixado muito a desejar”. Do terminal 4, saem apenas voos de duas companhias: Azul e Passaredo. Já o terminal 3, que está em construção, promete atender a um número maior de pessoas, recebendo um investimento de R$ 2,6 bilhões, segundo apuração do G1. A conclusão das obras, porém, está prevista para 2031, muito depois dos grandes eventos serem sediados no Brasil.

Possíveis soluções

Uma das soluções empregadas pelo governo para solucionar o problema dos aeroportos é recorrer à iniciativa privada. Em 2012, o governo Dilma realizou um leilão pela concessão por 20 anos dos aeroportos de Guarulhos (Cumbica), Campinas (Viracopos) e Brasília (JK). Porém, segundo Rodrigo Constantino, “o processo foi feito às pressas e com atraso de alguns anos”.

Outra solução de improviso, cogitada por alguns dos pilotos entrevistados, é remanejar a aviação executiva para aeroportos menores e bases aéreas, o que pode prejudicar negócios de empresas que já movimentam a economia brasileira. O Ministério do Esporte estima que os turistas representem uma receita de 9,4 bilhões de reais durante a Copa do Mundo, mas esse montante pode não compensar as perdas que empresas tendem a sofrer devido a dificuldades no transporte aéreo, entre outros transtornos causados pelo excesso de turistas somados à falta de estrutura.

A maior parte das obras em preparação para a Copa que podemos observar até o momento são ampliações dos terminais de passageiros, focando nas áreas comerciais de aeroportos, para que acomodem mais lojas e restaurantes. O resultado é que teremos melhores shoppings do que terminais nos aeroportos brasileiros. Apesar disso, a Infraero afirma que está trabalhando para melhorar os aeroportos – com R$ 4,6 bilhões gastos em obras – e que eles atenderão à demanda de turistas que visitarão o país durante a Copa. Ao colocar na balança o que afirma a Infraero em contrapartida ao que afirmam aviadores e estudiosos, é mais recomendável evitar os aeroportos durante o período da Copa do Mundo, a não ser para ir às compras.

Mensalão: entendendo a corrupção política brasileira

Tendo em vista as recentes manchetes sobre o caso “Mensalão”, em que atos de corrupção política estão sendo julgados, é óbvia a falta de entendimento, por parte da população sobre o que isso significa para a sociedade, além das causa e consequências da corrupção política no Brasil. O caso em questão, o “Mensalão”, se trata do desvio de milhões de reais em receita pública, usados, principalmente, na compra de votos dentro do parlamento, para que leis sejam aprovadas sem passar por uma análise ou deliberação, como uma forma, também, de esmagar a oposição. Situações como essa ferem a democracia e os direitos humanos, além de irem contra a ética e a moral vigentes. Ocorrem, entretanto, comum e explicitamente no Brasil. Por que isso acontece?
A corrupção na política brasileira é, de fato, algo lamentável para o desenvolvimento do País. O problema que enfrentamos ao analisarmos as raízes do problema é que elas estão tão profundamente inseridas na nossa cultura, que se tornaria um debate infindável de teorias sobre causa e solução. Portanto, três tópicos podem nos guiar nessa análise:
1 – As raízes culturais que permitem que a corrupção aconteça tão explicitamente como no caso do “Mensalão”;
2 – O papel da imprensa na política;
3 – A banalização da ética no sistema capitalista neoliberalista.

As raízes da corrupção

Da forma como os ingleses do norte dos Estados Unidos viam o Novo Mundo – como lugar promissor para se construir uma nova pátria – nós nunca vimos o Brasil. O nosso pedaço de Novo Mundo não foi mais que uma colônia de exploração até a chegada da família real, em 1808, fugida de Portugal graças às campanhas de Napoleão Bonaparte. Ainda assim, tentaram trazer os costumes portugueses para uma terra que em nada se parecia com Portugal, criando assim uma população que Sérgio Buarque de Holanda chamou de desterrados em sua própria terra:
“A tentativa de implantação da cultura europeia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em consequências. Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos: o certo é que todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem.” (Holanda, pag.31, 2006)
O ápice das tentativas de transformar o Brasil em um novo Portugal, foi a proibição do uso de qualquer língua além do português, impedindo que os negros africanos e os indígenas nativos perpetuassem suas culturas. O que nós temos no Brasil, então, é uma mistura de nativos sendo expulsos de suas terras (índios), africanos que nunca quiseram deixar seu continente, muito menos para serem explorados, e os portugueses insistentemente impondo uma cultura estrangeira em uma terra que não corresponde aos seus costumes. Mesmo os imigrantes europeus que vieram posteriormente foram explorados para continuar extraindo as riquezas naturais do Brasil, passando por seus diversos ciclos econômicos.
É de se esperar que não se desenvolvesse muito o “amor à pátria” por aqui. Enquanto cada estrangeiro tentava implantar um pouquinho de sua cultura no Novo Mundo, uma identidade nacional se formava fraquinha e capenga com o decorrer do tempo, até alcançar o que é hoje o Brasil. Vê-se hoje um brasileiro pouco patriota, desinteressado quanto à política e desatento quanto aos políticos corruptos.
As adversidades do Novo Mundo também deram origem ao “jeitinho brasileiro”, a arte de ser “malandro” e se adaptar a situações difíceis. A forte presença da cultura latina, a necessidade de adaptação e a mistura de culturas ocasionou uma variedade de valores morais muito grande. É muito comum encontrar brasileiros que participam de mais de um culto religioso, de crenças e valores muitas vezes contraditórios, o que nos leva a conclusão de que, no Brasil, também é possível se adaptar a regras de conduta e valores morais diferentes, conforme a conveniência.
O exemplo da religião não é único, convivemos diariamente com uma ética abstrata. Muitos atos ilegais são tolerados no Brasil pela população, como a venda de CDs e DVDs piratas, o roubo de sinal de TV a cabo e internet, a falsificação de produtos, entre outros atos “malandros”, apesar de ilegais ou antiéticos. O brasileiro, na maior parte das vezes, sabe que fez ou faz algo errado, mas esses atos são tão comuns e tão tolerados pelos que estão à sua volta, que ele não se incomoda em praticá-los. Nessas circunstâncias, é compreensível uma cultura permitir que a corrupção aconteça.
Entre as diversas formas de corrupção, a de teor político é a que mais afeta a população brasileira, mas estamos tão acostumados com ela que não nos damos conta de sua gravidade. A relativa ética brasileira é, portanto, um agravante na situação política na qual nos encontramos, que permite a ocorrência de esquemas de corrupção como o do próprio “Mensalão”. Sem a intervenção da população, os políticos só encontram obstáculos em outros políticos para alcançar seus objetivos. Sendo esses outros, também, possivelmente corruptos, esquemas de propina como o “Mensalão” são criados para ultrapassar obstáculos, possibilitando um poder muito grande a líderes de partido. Por esse motivo os políticos corruptos são preferíveis nos jogos políticos, já que seus votos e seu apoio podem ser facilmente comprados. Essa é uma reação em cadeia que tem acontecido desde as “DIRETAS JÁ”, culminando no “Mensalão”.

O papel da imprensa

Não podemos responsabilizar somente as raízes culturais do Brasil quando nos referimos à corrupção política. A grande imprensa tem, também, um papel importante na manutenção das condições sociais que permitem esses acontecimentos. O mestre em comunicação e mercado, Fábio Cardoso Marques, explica como a imprensa tem se transformado no ambiente capitalista brasileiro:
“A imprensa contemporânea se diferencia bastante da imprensa de algumas décadas atrás, quando os grandes jornais se importavam mais com a “missão” jornalística de formação de uma opinião pública, obviamente com base na perspectiva política de cada jornal, ao contrário do que acontece na atualidade, em que predomina o padrão jornalístico de prestação de serviço. Esse conceito de “missão” foi deixado de lado e substituído pela preocupação da empresa jornalística em atingir melhores resultados econômicos. Houve, dessa maneira, uma significativa transformação da imprensa escrita e da notícia em uma mercadoria específica que deve ser vendida em dois mercados diferentes: dos anunciantes e dos leitores.” (Marques, pag. 33, 2006)
Sendo assim, a qualidade da notícia de “fazer o público pensar” decai, na medida em que se torna mais interessante vender do que informar. Notícias sensacionalistas, superficiais, rápidas e simples atraem um público maior, trazendo um retorno financeiro mais atrativo para os veículos. As disputas políticas perderam espaço para as celebridades e as fofocas, as coberturas políticas se tornaram supérfluas e pouco exploradas.
Usarei o mesmo exemplo utilizado por Carlos Sandano ao explicar a manipulação ideológica do jornalismo moderno:
“Tomemos como exemplo a análise feita em um trabalho de pesquisa (Saisi, 2003) com a Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo na campanha presidencial de 2002. Durante todo o período eleitoral, a mídia concentrou-se quase que exclusivamente em torno de três temas centrais: os resultados de pesquisas eleitorais, a repercussão das campanhas dos candidatos na televisão e a opinião de porta-vozes do mercado financeiro sobre as peças publicitárias e as declarações dos candidatos (Saisi, 2003, p.375), ou seja, a cobertura midiática é mais fortemente influenciada pelas decisões dos coordenadores de marketing das campanhas do que por instâncias partidárias ou organizações civis, ainda que estas continuem a exercer certa influência regional. Além disso, a base para determinar a relevância das propostas é o aspecto quantitativo, ou seja, a posição de determinado candidato nas pesquisas, não a relevância ou a legitimidade de conceitos ou programas políticos.” (Sandano, pag. 66, 2006)
Essas características continuam na grande imprensa atual e tendem a se agravar se não houver uma mudança na forma como o jornalismo é feito. Entretanto podemos observar, baseando-se na repercussão do caso “Mensalão”, um leve aumento de interesse por parte da população e uma grande cobertura por parte da imprensa; mas não podemos nos dar por satisfeitos. Ainda existem diversas melhorias a serem feitas no trato com crimes políticos.

A Ética no mundo capitalista

Outro fator de destaque ao analisarmos a corrupção política brasileira, é a fragilidade da ética no mundo capitalista. O Brasil tem passado por um rápido crescimento econômico, afetando os hábitos de consumo e, portanto, interferindo no comportamento e na ética dos brasileiros.
Os valores morais e os costumes, que antes eram aprendidos através de nossas relações sociais cotidianas, perdem valor na medida em que o pensamento consumidor capitalista se alastra. A necessidade de consumir com frequência, imposta pela obsolescência programada dos novos produtos, as rápidas mudanças da moda e dos avanços tecnológicos, a alienação, entre outros aspectos da economia de consumo, transforma o trabalho e a busca por capital nas principais prioridades do cidadão moderno. Sendo assim, as pessoas passam menos tempo com a família e mais tempo trabalhando, o que impede uma educação informal dos filhos, essencial para o desenvolvimento da ética no ambiente privado. Castro explica as possíveis consequências dessa situação:
“Diante dessa realidade surgem algumas constatações: o crescimento da violência e a banalização da vida humana; a mercantilização do sistema de ensino e de saúde; as amizades que se desenvolvem com base em interesses econômicos; a exclusão de pessoas do mercado de trabalho; a naturalidade com que pessoas expõem na mídia sua vida privada; a mercantilização da religião que propicia a relação “mercadológica” com o sagrado; o aumento de pessoas depressivas e vazias de “sentido” etc. Por trás de todos esses sintomas não estaria a lógica de mercado que perpassa toda a sociedade?” (Castro, pag. 125, 2006)
Esse enfraquecimento da ética também favorece a alienação. A população tende a não se interessar pelo que acontece na política e, em especial, não compreender como isso a afeta, assumindo uma postura de passividade. Bauman, em “A Ética é Possível no Mundo de Consumidores?”, explica como o consumo afasta o cidadão de seu papel na manutenção da democracia:
“Mas o consumidor é um inimigo do cidadão. Por toda a parte ‘desenvolvida’ e rica do planeta, abundam sinais de um desvanecido interesse na aquisição e no exercício de habilidades sociais, apatia política e perda de interesse no desenrolar do processo político. A política democrática não pode sobreviver muito tempo à passividade dos cidadãos produzida pela ignorância e a indiferença política.” (Bauman, pag. 195, 2011)
Ou seja, essa alienação torna o cidadão brasileiro vulnerável às tramoias políticas e aos atentados à democracia, como é o caso do “Mensalão”. Comprando votos parlamentares para a aprovação de leis, o esquema do “Mensalão” destrói qualquer oposição, atentando assim contra a democracia.
A maior parte da população, seja pela desinformação da imprensa, pela alienação do consumismo, pela pobre educação ou pela relatividade ética, não compreende a gravidade desses problemas e pouco faz para tentar entende-la ou encontrar uma forma de resolver a situação. Nós simplesmente aceitamos a realidade política como ela é e deixamos que outra pessoa cuide disso, seja lá quem for. Afinal, acreditamos que a corrupção faça parte de nossas vidas assim como o “jeitinho brasileiro”: pode estar errado, mas nós já estamos acostumados. O brasileiro compreende o fato de que existem irregularidades na política, mas parece pensar que isso o afeta tanto quanto um amigo comprar um DVD pirata; é errado, mas não pode fazer mal a ninguém. Enquanto a população não compreender a seriedade de ocorrências que vão dos mais simples atos de corrupção passiva na política até os grandes esquemas como o do “Mensalão” e a intensidade com que afetam o País inteiro, nada fará para interrompê-las.

Luíza, o Canadá e a Decadência da Televisão

Honestamente, estamos em uma era de decadência na qualidade das programações de TV. A recente alteração do Regulamento dos Serviços de Radiodifusão, assinada pela presidente Dilma, já não ajuda a reverter a situação:
http://dilma13.blogspot.com/2012/01/governo-define-novas-regras-para-o.html
Para que as emissoras possam seguir as novas regras impostas, desencadearão uma queda ainda maior na qualidade da programação televisiva. A rigidez com que aprovam a criação de novas emissoras e obrigatoriedade de padrão na composição de sua programação serve somente para que o governo obtenha um maior controle sobre a mídia, que influencia milhões de pessoas em todo o país.
Resta-nos a internet, que ainda é relativamente livre, apesar de o governo dos Estados Unidos estar criando leis contra a pirataria que comprometem a liberdade de expressão na internet. A diferença é que grandes empresas como a Google e a Wikipedia protestaram contra a aprovação dos decretos chamados PIPA e SOPA, considerados inapropriados por conterem leis vagas e abertas a interpretação, podendo comprometer a liberdade na internet. Diversos sites ficaram fora do ar em protesto.
A criação de leis vagas no Brasil é, no entanto, aceita pacificamente. Pouco se falou sobre o assunto. A população brasileira parece não perceber que a baixa qualidade de seu entretenimento televisivo e que está para cair ainda mais.
A reportagem de mais de 3 minutos e meio no Jornal Hoje, da Globo, sobre a Luíza, é um exemplo dessa decadência. A reportagem, que ovaciona uma celebridade relâmpago da internet como se ela tivesse realizado algo importante, é uma irresponsabilidade. A televisão, especialmente os programas jornalísticos, é o meio de comunicação que atinge mais eficazmente a população brasileira, influenciando seu comportamento. Ao tratar uma piada de internet como um assunto importante a ser apresentado por um Jornal respeitado, a Globo passa a mensagem a milhões de brasileiros de que eles devem dar atenção a fatos como esse, enquanto leis absurdas que limitam a liberdade de expressão são criadas e aprovadas, e pouco se fala delas.
A internet difunde informações de todos os níveis, desde as mais sérias e importantes às porcarias mais estúpidas. É, portanto, uma fonte de informações menos confiável. A televisão é geralmente mais rígida em relações às informações passadas, o que faz com que as pessoas a levem a sério, gerando uma forte responsabilidade para as emissoras: a de passar informações seguras e de relevância à população. Quando se mostra, porém, celebridades relâmpago que ganharam a fama através de uma piada (que, diga-se de passagem, só é engraçada na internet) como se ela tivesse algum talento ou estivesse relacionada a algum grande feito, se destrói a seriedade desse meio de comunicação. Se é pela audiência, ou pela piada, eu sinto muitíssimo pelos brasileiros que incentivaram esse tipo de reportagem. Esses realmente merecem a programação de baixíssima qualidade que estão recebendo.