Tradutor Político

Tradução: Político – Português

Dilma fala sobre o que esperar de 2012 no programa de rádio “Café com a Presidenta”, no dia 09/01/12:

Original em Político: “(…) Nós vamos ter que trabalhar muito, mas já começamos o ano com uma boa notícia: o aumento do salário-mínimo, que passou de R$ 545,00 para R$ 622,00. O aumento do mínimo é importante porque as famílias vão poder consumir mais e viver melhor.”

Tradução para o Português: Estou seguindo o plano original do meu governo de ir aumentando o salário mínimo aos pouquinhos para não ouvir reclamação. Se as famílias vão poder consumir mais ou não, isso depende da inflação, da taxa de juros e do desenvolvimento da indústria. Ou seja, provavelmente não.

Original em Político: “Com isso, vão criar mais demanda para a nossa indústria, o nosso comércio e o setor de serviços, mantendo o dinamismo e a roda da nossa economia girando para que o Brasil continue a crescer.”

Tradução para o Português: Com isso, vamos continuar insistindo no protecionismo, para ver se a indústria cresce mais rápido, mesmo que a maioria dos economistas concordem que essa é a receita para o desastre; e que o fluxo de dólares está cada vez mais negativo com essa política protecionista devido à demanda por produtos importados de melhor qualidade.

Original em Político: “São quase 40 milhões de brasileiros diretamente beneficiados. Deste total, cerca de 20 milhões são empregados cujo salário corresponde ao mínimo, mas há também cerca de 20 milhões de aposentados e pensionistas que recebem o salário-mínimo, ou seja, dois em cada três aposentados receberão o reajuste. Para você ter uma ideia, este aumento vai fazer circular cerca de R$ 47 bilhões na economia por causa do salário-mínimo.”

Tradução para o Português: Estou falando números grandes para impressionar, mesmo que, individualmente, na prática essa diferença não seja grande coisa.

Original em Político: “Nós reajustamos a tabela do Imposto de Renda em 4,5%, e o desconto que o contribuinte tem no contracheque será, portanto, menor já a partir deste mês de janeiro. São 25 milhões de contribuintes pagando menos imposto. Com o reajuste da tabela, 800 mil pessoas ficaram isentas, ou seja, não vão mais pagar Imposto de Renda.”

Tradução para o Português: Bateu uma preguiça de ficar conferindo a declaração do Imposto de Renda de tanta gente, então a gente isentou mais um pessoal.

Original em Político: (sobre os micro e pequenos empresários) “…as novas regras do Supersimples entram em vigor agora em janeiro. Quem se enquadra no Supersimples paga um imposto único e com alíquota bem pequena. E nós tomamos uma medida importante, porque aumentamos o número de empresas que podem usar o Supersimples. Por exemplo: para se enquadrar como microempresa, o limite de faturamento anual passou de R$ 240 mil para R$ 360 mil; para a pequena empresa, subiu de R$ 2,4 milhões para R$ 3,6 milhões. Assim, mais pequenos e microempresários poderão se enquadrar. E aqueles que já estão no Supersimples poderão ampliar seus negócios sem pagar mais impostos.”

Tradução para o Português: Tomamos medidas para que mais empresários consigam entrar e nunca sair do ciclo burocrático que envolve a abertura de novas empresas. Quem se perde nesse sistema (em geral, se gasta 3% dos lucros apenas para pagar pessoas capacitadas a lidar com a burocracia) vai falir e ter que pagar uma grana alta para fechar o negócio ou nunca mais abrir de novo! Assim sendo, vou jogar mais uns números altos para mostrar como eu sou inteligente.

Original em Político: (sobre o microempreendedor individual) “Eles também foram beneficiados com as mudanças que fizemos. (…) na indústria e no comércio, quem é microempreendedor individual paga R$ 1,00 de imposto e R$ 31,10 para a Previdência, passando a ter direito à aposentadoria. No setor serviço, paga R$ 5,00 de impostos e também R$ 31,10 para a Previdência. O que mudou este ano (…) é que mais empreendedores poderão ter direito aos benefícios do sistema MEI. Agora, o limite de faturamento anual é de R$ 60 mil, ou seja, de quem ganha até R$ 5 mil por mês. Estamos aumentando o limite de faturamento, que antes era de apenas R$ 36 mil/ano. Com isso, estamos estimulando o microempreendedor individual a formalizar e a expandir seus negócios. Com a nova regra, quase 4 milhões de micro e pequenas empresas serão beneficiadas pelo Supersimples, e 1,9 milhão microempreendedores, pelo MEI. (…) as micro e pequenas empresas empregam mais de 9 milhões de trabalhadores no Brasil.”

Tradução para o Português: Vou colocar mais uns números para distrair, mas só estou querendo salientar que estamos desesperados para que o crescimento da indústria aumente o passo, mas temos que agir de maneira que agrade os políticos em geral (mudanças realmente significantes atrapalham os “esquemas”). Também estamos facilitando para que os empreendedores “informais”, ou seja, os caras que não pagam imposto, se formalizem e paguem pelo menos um pouquinho. As micro e pequenas empresas empregam menos de 5% da população, e não estão bem distribuídas pelo Brasil, estamos mais é tentando mostrar serviço.

Original em Político: “No final do ano passado, nós também reduzimos o imposto sobre produtos da linha branca, que são geladeiras, fogões, máquinas de lavar, entre outros. Esta redução continua valendo até março. Estes, Luciano, são exemplos de redução de tributos feitos pelo governo, com grande repercussão para 2012. Por tudo isso, Luciano, eu estou convencida de que 2012 será um bom ano. Nos orgulha muito sermos a sexta maior economia do mundo, mas o nosso objetivo é garantir aos brasileiros mais renda e mais emprego.”

Tradução para o Português: Tem um montão de gente fazendo compra a crédito e contribuindo para o crescimento artificial do país. Se alguma coisa não for feita em breve, talvez entremos em uma crise, só que eu não vou falar pra ninguém e, quando acontecer, vou culpar a Europa. O mundo acabar em 2012 não é a pior das previsões.

Fonte da entrevista: http://www2.planalto.gov.br/imprensa/cafe-com-a-presidenta/programa-de-radio-201ccafe-com-a-presidenta201d-com-a-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-17/view

Vida Mole: Universitária, dona de casa, professora e paulistana ainda por cima

Ao acordar, depois de algumas horas de sono na madrugada de segunda-feira, e pressionar o botão “soneca” do celular algumas vezes, tenho 15 minutos para me trocar, arrumar o cabelo, juntar minhas coisas, dar um beijo no marido e chegar ao ponto de ônibus. Por incrível que pareça, consigo a façanha e chego a tempo para a aula. O meu aluno parece menos cansado que eu. Eu havia passado o domingo inteiro lendo e estudando, com apenas algumas pausas para comer e ir ao banheiro. Me censurei inúmeras vezes por não tê-lo feito antes, sabia que as provas seriam naquela semana. Mas, quando? Mesmo que fizesse tempo, as prioridades eram outras, então.
Exausta, dei minha aula, esforçando-me epicamente para buscar vocabulários no meu dicionário cerebral. Management, human resources, lab, joy, tiredless… qual era a palavra? Muitas vezes não emergiam. Despedi-me do trabalho e fui em direção à faculdade. Tinha prova; prova de Marketing.
Findo o stress da manhã, começou a minha onda de azar. Se é que se pode chamar de azar – quando se mora em São Paulo, parece que o azar te segue tão freqüentemente que já faz parte da rotina. Eu não tinha ido ao banco, o meu bilhete único estava vazio. Voltei para a casa a pé.
No caminho, julgando que não teria tempo para fazer o almoço, comi um pastel. Passei fome a tarde inteira, enquanto lia e estudava, mas não ininterruptamente. Lembrei-me de um relatório atrasado e um e-mail importante. Mandei-os. Li. Lembrei-me das contas que venciam naquele dia. Os bancos estavam em greve. Os correios, também.
Tentando evitar a chatice dos call-centers, fui logo à internet. Não deu certo, não consegui abrir meu cadastro para visualizar o código de barras da conta; a página simplesmente não abria. Algumas tentativas fracassadas me levaram ao telefone (já havia tentado, por 2 meses, marcar uma data de entrega de documentos com a polícia federal e até tentado usar o internet banking em intervalos de uma semana, não estava disposta a perder mais tempo com sites problemáticos – parece que quanto mais se tenta facilitar e agilizar esses processos burocráticos, mais tempo se perde).
A URA atendeu prontamente. Simpaticíssima a URA da NET, ela interage com os clientes. Pena que nunca entende o que eu preciso, nem os números que estou digitando, e sempre me manda para o atendente, com direito a espera, musiquinha e uma lista de procedimentos para confirmação de dados. Essa última é para saber se é você mesmo que quer pagar a sua conta, imagina se outra pessoa paga? Um perigo!
Foi o tempo que a atendente gastou ditando o código de barras da fatura, e eu confirmando-os, que garantiu meu atraso. Saí às pressas para pagar as contas, e ainda tinha que colocar crédito no bilhete. Os minutos se arrastavam enquanto eu digitava a longa série de números do código de barras no caixa automático, onde os botões algumas vezes travam, e a gente tem que começar tudo de novo.
Corri para a lotérica mais próxima somente para ouvir a moça dizer que o sistema havia caído. Não usaria o bilhete único naquele dia. Corri, então, para o ponto de ônibus, somente para perder o primeiro, sendo obrigada a pegar o “Jardim Carumbé”, sem crédito, sem integração. Planejei, no caminho, fazer um capeletti que estava na geladeira para o jantar e foi o que fiz. Depois da aula, corri para a cozinha faminta, preparei o tal capeletti, comi e vomitei em seguida. Estava estragado, o maldito.
Talvez meu dia fosse melhor se o tempo seco não entupisse meu nariz, se eu não tivesse prova de Marketing, se a louca da professora de terça-feira não me fizesse ler 2 livros em 2 dias… A verdade é que o meu dia foi meticulosamente planejado por São Paulo. A cidade nos ensina uma lição: aprendemos a apreciar mais as coisas simples. Amanhã, se o ônibus chegar no horário certo e tiver espaço suficiente para eu passar a catraca, será meu dia de sorte. Agora, se eu conseguir uma transação bancária no tempo determinado, será como uma grande vitória.

A Manipulação de Massa e a Cultura

A manipulação de massa existe em todas as culturas. O idealismo anarquista, socialista, comunista e qualquer ista que se adicione à lista são utopias, ilusões criadas para mascarar outro modelo de manipulação. O ser humano precisa controlar e ser controlado, está nas entranhas de sua mais instintiva natureza. Se um indivíduo, portanto, tiver a falsa impressão de que tem controle de alguma coisa, ele fica satisfeito, pacífico.
O que muda é a forma de manipulação. Essa evolui com a cultura de um determinado lugar.
A cultura brasileira é, portanto, fraca e sem identidade.
Exagerei? Vejamos…
As culturas norte-americanas, européias, e até mesmo as asiáticas são tão mais fortes que a brasileira, que a população exige muito mais qualidade das produções da indústria cultural, resultando em ótimos filmes, peças, músicas, programas de TV, obras de arte, entre outros. Enquanto a população brasileira pede tão pouco em troca da sua manipulação, que resulta em produções de baixa qualidade, clichês, apelação sexual e humor de baixo calão.
Não pretendo, de maneira alguma, generalizar. Há, no Brasil, belíssimas obras de expressão cultural, assim como há, lá fora, um grande número de lixo cultural. A diferença na quantidade, porém, é grande. Existem muito mais pessoas escolarizadas nos Estados Unidos, na Europa, na China, no Japão, do que no Brasil. Sem contar outros muitos lugares, só estou destacando os mais conhecidos. Essas pessoas com alto nível de escolaridade exigem muito mais para seu entretenimento. O japoneses inovam constantemente em tecnologia, os ingleses desenvolvem comédias de humor culto, preservam obras milenares por meio de filmes e produções teatrais. Os americanos, ainda que criem milhares de clichês todos os anos, produzem, aqui e ali, muitos filmes alternativos que, mesmo sendo minoria dentro do país, são mais numerosos que todas as produções brasileiras.
O que é que temos no Brasil? A quantidade de filmes, peças, produções musicais de alta qualidade são tão insignificantes em comparação ao tamanho do país, da população, da diversidade cultural. O que é, então, que distrai o brasileiro? Com o que ele se ocupa para ignorar a manipulação imposta? Com o trabalho.
Trabalhamos demais para somente sobreviver. É um regime escravo. Trabalhamos, comemos, temos uma casa para dormir, fazemos a nossa dose de lavagem cerebral com a mídia e começamos tudo de novo. Fora as senzalas e as chibatadas é quase como um regime escravo, só que em condições satisfatórias o suficiente para que não reclamemos.
O investimento na educação é imprescindível. A minoria da população, que teve acesso a uma educação de qualidade, passa a exigir melhor qualidade e acaba tendo que importar cultura, assistindo filmes e programas e ouvindo música estrangeiros. Isso destrói a vasta cultura nacional, tão rica, tão vasta, porém tão esquecida, fraquinha que está. Sem educação de qualidade, um país não consegue manter sua identidade cultural, ainda que a ordem seja mantida.
Se você não se importa em ser controlado, ao menos peça algo melhor em troca.

Fim dos Livros?

Não encontrei mais ninguém para compartilhar meu pesar em relação ao fechamento da Borders,segunda  maior rede de livrarias dos Estados Unidos. Poucos se importaram com a notícia aqui no Brasil, como mais um dos resultados da crise econômica norte-americana. Mas será mesmo somente a crise a causa do fechamento das quase 400 lojas remanescentes? O descaso do governo e de investidores ao pedido de socorro da empresa, em conjunto com a rápida difusão dos e-readers revela outra perspectiva da situação: os americanos se importam cada vez menos com livros e cada vez mais com tecnologia.

Obviamente que as livrarias seriam afetadas pela tecnologia. Um e-book pode ser comprado por 3 dólares, e e-readers já são distribuídos em muitas das universidades americanas assim que o novo aluno se matricula. Além de toda aquela questão ecológica de que os livros matam árvores, quem quer gastar dinheiro com livros pesados de papel quando se pode comprar um e-book por muito menos? A tecnologia está tão acessível que as aulas de caligrafia estão sendo substituídas das grades curriculares das escolas primárias de 44 dos 50 estados americanos. Considera-se mais importante que os jovens saibam usar um teclado desde cedo, do que ser capaz de escrever com uma letra legível.

O que me assusta nessa história toda, é a dependência das pessoas na tecnologia. Em alguns anos, para se parar uma nação, basta atacar a internet, jogar um vírus no sistema ou cortar suas fontes de energia elétrica. Imagine que, se seu computador parar de funcionar, você não consegue trabalhar, se comunicar ou se informar do que está acontecendo. Sim, eu sei que isso já acontece, eu mesma me sinto sozinha quando não tenho conexão na internet, mas o fato é que ainda fazemos uso – apesar de em cada vez menor escala – de tecnologias mais simples, como as redes telefônicas, mapas impressos, radiofonia, fogões a gás etc. Quando a energia elétrica cai, eu ainda consigo cozinhar, usar o telefone e, pasmem, me entreter. Sim, uma vela basta para que eu possa ler um livro e me entreter no escuro. Quantas pessoas ainda fazem isso?

Talvez seja uma boa hora para começar a colecionar livros e imaginar que, na pior das hipóteses, estarei rica em informação e conhecimento. Brinco com meus amigos dizendo que quando todos os seus e-readers falharem, eles virão procurar meus livros. Mas, é como dizem: toda brincadeira tem um fundo de verdade. E eu, no fundo, acredito que, algum dia, a tecnologia nos deixará na mão e teremos que nos relembrar de nossa humanidade.

Manipulação da Mídia?

Imagine uma sala de aula em uma universidade brasileira. A aula é de história, o assunto, revolução francesa. Os alunos se concentram para absorver as informações que o professor, incansável, derrama sobre eles. O professor se vira, por um minuto, para escrever algo na lousa. Por uma fração de segundos, a sala parece estar em silêncio, mas logo percebe-se um murmurinho no fundo da sala. Duas estudantes conversam com entusiasmo sobre algo que aconteceu na noite anterior: “e ele xingou ela?” os alunos mais próximos se abstêm da aula, ouvindo a conversa das vizinhas: “é ele xingou ela de tudo, falou que ela não merecia mais ele”. Mais alunos passam a ouvir a conversa, o professor já voltou à sua explicação dos motivos da revolução. “E ela está grávida, né, mas não sabe se é dele”, uma delas explica, “ então ela não tinha contado, mas ele descobriu pela melhor amiga dela”. Metade da sala está toda ouvidos às garotas, ignorando o professor. “Ela saiu chorando e jurou que ia acabar com o namoro dele”, a amiga, desentendida, faz a pergunta que toda a sala queria fazer: “Eles não namoram???” Somente os alunos sentados nas carteiras mais distantes não prestam atenção aos acontecimentos da noite anterior, o resto da turma se pergunta se conhece os personagens da história. “Não”, ela responde, “ele namora a melhor amiga dela, mas traiu ela e engravidou a outra, isto é, ainda não sabemos se foi ele mesmo”. O professor nota a expressão de espanto dos alunos e chama atenção para que pare o falatório. Em silêncio, os alunos lamentam perder o fim da história.

Quantos desses alunos chegarão em casa e assistirão à novela?

Os principais assuntos de interesse das pessoas sempre foram ligados a problemas pessoais, escândalos e coisas do gênero, mesmo antes dos veículos de comunicação de massa. Desde que existe comunicação existe a moda, a manipulação e os líderes de opinião. Sempre existiram pessoas que criam modas e pessoas que a seguem, pessoas que criam opiniões e pessoas que aderem a elas, o que mudou, com a comunicação de massa, é a rapidez com que essas opiniões atingem as pessoas. O argumento sensacionalista de que a televisão imbeciliza as pessoas e as torna suscetíveis à manipulação, é extremamente simplista e não analisa os dois lados da moeda. A programação da mídia é definida de acordo com a audiência. Não é interessante para a comunicação de massa colocar no ar uma programação que poucas pessoas se interessarão, ela perderia o sentido. É por isso que ela é chamada de comunicação de massa, ela atinge uma grande porcentagem da população. Existe a possibilidade de manipular essas pessoas? Sim, é claro. Essas pessoas se colocam na posição de audiência passiva, elas se sentem confortáveis desta maneira.

Essa é, há muito tempo, a opção da grande massa norte-americana, por exemplo. Quando George W. Bush venceu as eleições de 2000, a população americana sabia que a maioria dos votos tinha sido de Al Gore, mas que o sistema político do país impedia a sua vitória. Nem por isso, os milhões de cidadãos que votaram em Al Gore saíram às ruas para reivindicar uma mudança política. A campanha política de Bush manipulou-os a esquecer o assunto e ficar em casa assistindo os últimos episódios de “Friends”, ou ainda reelegê-lo quatro anos depois? A televisão convenceu o público de que Bush era a melhor solução para o país? Foi ela que alienou a população, desprovendo-a de interesse político? Não. O cidadão americano só é patriota em relação ao que é externo, menos de 50% dela vai às urnas no dia das eleições presidenciais. Mas isso não vem da mídia e sim da educação.

Várias críticas vêm sido feitas em relação ao material didático nos Estados Unidos, isso não é novidade. Também não é novidade o fato de que poucas mudanças foram feitas em relação a isso. O governo tem consciência do poder que a educação exerce sobre um indivíduo. Se você abrir um livro-texto de história, por exemplo, usado no ginásio, vai se deparar com personagens heróicos, momentos de bravura, políticos modelo, entre outras deturpações da realidade. Pouco se fala sobre as guerras incoerentes, a escravidão, entre outras situações horrendas à que os EUA se meteram. Os livros de geografia pouco informam sobre o resto do mundo, e até mesmo os de filosofia pouco remetem os alunos a discussões polêmicas. As crianças e adolescentes são condicionados a não se contrapor às informações passadas, apenas absorvê-las.

Não surpreende que elas ajam da mesma maneira em relação à mídia. A verdade é que a mídia oferece mais informação do que seus livros didáticos e sua formação acadêmica, mas elas não aprenderam a julgá-las e interpretá-las segundo sua própria opinião. Portanto, elas se prendem àquela mesma programação, àqueles mesmos sites de buscas, àquelas mesmas revistas e jornais, sem se preocupar se as informações recebidas são ou não totalmente verdadeiras.

Isso não acontece somente nos EUA, mas no mundo todo, em diferentes graus e formas. No Brasil, pouco se investe em educação, temendo que um maior entendimento do público, causará mudanças políticas desfavoráveis aos que agora se encontram no poder. Na China, apesar do grande investimento na educação, ela ainda é focada em certos assuntos, deixando de lado questões sociológicas ou políticas que os levem à reflexão.

A manipulação da mídia está presente, até certo grau, na sociedade atual. Ela tem aparecido cada vez mais sutil, porém, continua agindo. Entretanto, eu acredito que ela tenha origem na educação, e não na mídia em si. Quanto menor o grau de interesse das pessoas em procurar diferentes opiniões, pontos de vista e versões dos fatos, hoje em dia disponíveis na mídia, especialmente na internet, maior a facilidade de manipulação das mesmas. E essa falta de interesse se deve a uma educação fraca, à cultura de passividade e à zona de conforto que essas pessoas cultivam. Deve-se culpar a mídia? Eu acredito que não. A mídia é um serviço a ser disponibilizado, quem lapida a sua programação é a própria população desinteressada. Previsões catastróficas de um mundo alienado, como a de Ray Bradbury, se provaram pouco prováveis após situações similares ascenderem e fracassarem rapidamente na Alemanha nazista, na China de Mao e entre diversas ditaduras. Mas pode-se verificar, hoje em dia, uma versão menos dramática de previsões como essa. A alienação existe, a manipulação de massa também, mas elas não são tão novas quanto o aparelho de televisão.