Ao acordar, depois de algumas horas de sono na madrugada de segunda-feira, e pressionar o botão “soneca” do celular algumas vezes, tenho 15 minutos para me trocar, arrumar o cabelo, juntar minhas coisas, dar um beijo no marido e chegar ao ponto de ônibus. Por incrível que pareça, consigo a façanha e chego a tempo para a aula. O meu aluno parece menos cansado que eu. Eu havia passado o domingo inteiro lendo e estudando, com apenas algumas pausas para comer e ir ao banheiro. Me censurei inúmeras vezes por não tê-lo feito antes, sabia que as provas seriam naquela semana. Mas, quando? Mesmo que fizesse tempo, as prioridades eram outras, então.
Exausta, dei minha aula, esforçando-me epicamente para buscar vocabulários no meu dicionário cerebral. Management, human resources, lab, joy, tiredless… qual era a palavra? Muitas vezes não emergiam. Despedi-me do trabalho e fui em direção à faculdade. Tinha prova; prova de Marketing.
Findo o stress da manhã, começou a minha onda de azar. Se é que se pode chamar de azar – quando se mora em São Paulo, parece que o azar te segue tão freqüentemente que já faz parte da rotina. Eu não tinha ido ao banco, o meu bilhete único estava vazio. Voltei para a casa a pé.
No caminho, julgando que não teria tempo para fazer o almoço, comi um pastel. Passei fome a tarde inteira, enquanto lia e estudava, mas não ininterruptamente. Lembrei-me de um relatório atrasado e um e-mail importante. Mandei-os. Li. Lembrei-me das contas que venciam naquele dia. Os bancos estavam em greve. Os correios, também.
Tentando evitar a chatice dos call-centers, fui logo à internet. Não deu certo, não consegui abrir meu cadastro para visualizar o código de barras da conta; a página simplesmente não abria. Algumas tentativas fracassadas me levaram ao telefone (já havia tentado, por 2 meses, marcar uma data de entrega de documentos com a polícia federal e até tentado usar o internet banking em intervalos de uma semana, não estava disposta a perder mais tempo com sites problemáticos – parece que quanto mais se tenta facilitar e agilizar esses processos burocráticos, mais tempo se perde).
A URA atendeu prontamente. Simpaticíssima a URA da NET, ela interage com os clientes. Pena que nunca entende o que eu preciso, nem os números que estou digitando, e sempre me manda para o atendente, com direito a espera, musiquinha e uma lista de procedimentos para confirmação de dados. Essa última é para saber se é você mesmo que quer pagar a sua conta, imagina se outra pessoa paga? Um perigo!
Foi o tempo que a atendente gastou ditando o código de barras da fatura, e eu confirmando-os, que garantiu meu atraso. Saí às pressas para pagar as contas, e ainda tinha que colocar crédito no bilhete. Os minutos se arrastavam enquanto eu digitava a longa série de números do código de barras no caixa automático, onde os botões algumas vezes travam, e a gente tem que começar tudo de novo.
Corri para a lotérica mais próxima somente para ouvir a moça dizer que o sistema havia caído. Não usaria o bilhete único naquele dia. Corri, então, para o ponto de ônibus, somente para perder o primeiro, sendo obrigada a pegar o “Jardim Carumbé”, sem crédito, sem integração. Planejei, no caminho, fazer um capeletti que estava na geladeira para o jantar e foi o que fiz. Depois da aula, corri para a cozinha faminta, preparei o tal capeletti, comi e vomitei em seguida. Estava estragado, o maldito.
Talvez meu dia fosse melhor se o tempo seco não entupisse meu nariz, se eu não tivesse prova de Marketing, se a louca da professora de terça-feira não me fizesse ler 2 livros em 2 dias… A verdade é que o meu dia foi meticulosamente planejado por São Paulo. A cidade nos ensina uma lição: aprendemos a apreciar mais as coisas simples. Amanhã, se o ônibus chegar no horário certo e tiver espaço suficiente para eu passar a catraca, será meu dia de sorte. Agora, se eu conseguir uma transação bancária no tempo determinado, será como uma grande vitória.
Vida Mole: Universitária, dona de casa, professora e paulistana ainda por cima
Reply