Polarização e política do medo

 

polarizacao-azul-vermelhoHá duas salientes linhas de pensamento hoje no Brasil. Eu as chamarei de A e B, e descrevo as duas abaixo:

 

Linha de pensamento A

Há um plano de ação em processo, com a intensão de implantar o comunismo/socialismo totalitário no Brasil. Para alcançar esse objetivo, os orquestradores desse plano (muito representados por políticos de esquerda), pretendem trazer abaixo todos os valores cristãos, que são a principal barreira impedindo que esse desejo se concretize. Para tal, esse grupo esquerdista é capaz de qualquer coisa, até mesmo corromper crianças através do homossexualismo e a pedofilia. Esse plano se disfarça de uma coisa boa, se manifestando na forma de movimentos por direitos humanos, direitos LGBT, feministas, etc, ganhando assim muitos adeptos. Mal sabem eles que são “massa de manobra” para fins sinistros.

 

Linha de pensamento B

Há um plano de ação em processo, com a intenção de implantar uma nova ditadura no Brasil. Os orquestradores desse plano – representados por políticos de direita em parceria com grandes corporações – contam com o apoio de muitos religiosos, que são facilmente manipulados por pastores (especialmente da igreja evangélica). As pessoas que apoiam esse plano, religiosos ou não, costumam ser racistas, homofóbicas, preconceituosas em geral. Eles acreditam numa forma moderna, mais disfarçada, de escravatura através do trabalho; pois a maioria deles são pessoas com dinheiro, e carregam um grande rancor do pobre.

 

Se você achou a primeira linha de pensamento absurda, é bem provável que a segunda lhe soe plausível. Se o pensamento A faz sentido para você, você deve ter achado o pensamento B completamente insano. Isso é a polarização.

Qual das duas linhas de pensamento está correta? Nenhuma. O motivo pela qual uma delas provavelmente soa plausível para você (e para mim, eu não estou imune a esses processos) pode ser explicado pela heurística.

 

Heurísticas

 

Segundo a Wikipédia, heurística “é um método ou processo criado com o objetivo de encontrar soluções para um problema. É um procedimento simplificador (embora não simplista) que, em face de questões difíceis, envolve a substituição destas por outras de resolução mais fácil a fim de encontrar respostas viáveis, ainda que imperfeitas. Tal procedimento pode ser tanto uma técnica deliberada de resolução de problemas, como uma operação de comportamento automática, intuitiva e inconsciente”.

626381112Nós fazemos isso o tempo todo. O cérebro humano desenvolveu técnicas de solução rápida de problemas, que podem ser muito úteis, mas que muitas vezes causam falhas de julgamento. O exemplo mais clássico é o da heurística da disponibilidade, na qual um julgamento é feito baseado no primeiro pensamento que vem à mente.

O Dr. Jerome Groopman (apud Skeptical’s Dictionary) exemplifica essa heurística com o caso de um médico que diagnosticou vários casos de pneumonia viral no decorrer de algumas semanas. Uma paciente então apresentou sintomas similares, mas não apresentou as características manchas brancas no raio-x do pulmão, típicas de pneumonia viral. O médico a diagnosticou como estando nos estágios iniciais de pneumonia. Ele estava errado. Outro médico apresentou o diagnóstico correto: envenenamento por aspirina. O julgamento do primeiro médico havia sido atrapalhado pela grande disponibilidade de casos com o mesmo diagnóstico.

Nós não compramos um bilhete de loteria pensando nas chances extremamente baixas de recebermos o prêmio, mas nos casos de vencedores que vemos nos jornais e nos comerciais. Essas imagens estão mais disponíveis do que os números concretos da probabilidade, levando muita gente a superestimar suas chances. Assim, também, sempre que os noticiários estampam o rosto de terroristas islâmicos na TV, aumentam os ataques a estrangeiros (principalmente árabes, mas muitas vezes também mexicanos e indianos) nas ruas dos Estados Unidos. As chances de ser morto por um americano branco, por um bebê ou por um cortador de gramas são muito maiores do que por um terrorista mulçumano, mas a heurística da disponibilidade faz com que as pessoas vejam o mulçumano como uma ameaça maior.

Evitar esses erros de julgamento dá trabalho. É preciso ponderar, buscar o máximo possível de informações sobre o assunto, analisar versões com pontos de vista diferentes, etc. O uso das mídias sociais também colabora para intensificar a ocorrência de heurísticas.

As pessoas recebem grandes quantidades de informações através da internet, o que as força a fazer julgamentos ainda mais rapidamente. Além disso, o sistema de mídias sociais como o Facebook, intensifica a disponibilidade cada vez mais radical de um ponto de vista. Quando você clica em um artigo que foi compartilhado por um colega, o Facebook recebe essa informação como uma indicação de interesse por determinado assunto. Baseando-se nessa informação, ele passa a disponibilizar mais links sobre esse assunto, autor, veículo, etc. Então digamos que você clique em um artigo de uma revista de ponto de vista predominantemente de direita. Mais artigos de direita vão aparecer e você vai clicando. Em um determinado momento, todos os links vão apresentar um ponto de vista mais de direita, te deixando sem a opção de visualizar um ponto de vista diferente.

É comum, também, participar de grupos online onde mais pessoas compartilham um ponto de vista. Stuart Sutherland, em “Irrationality” (1992), explica que, quanto mais se convive com pessoas de um mesmo ponto de vista, mais essas pessoas se radicalizam para aquela linha de pensamento. Pessoas com o mesmo ponto de vista, validam e encorajam esse pensamento, e a falta de contra-argumentos – por evitarmos pessoas que pensam diferente – faz com que crenças se intensifiquem cada vez mais. Nós agimos assim por gostarmos de sentir que estamos corretos e receber a aprovação do grupo; encaramos a discordância como uma afronta, uma ofensa.

 

O medo

 

Suzanne Zeedyk explica o sucesso de Hitler através do medo e, acima de tudo, a origem do medo. O cérebro em desenvolvimento possui um sistema FEAR (medo) que funciona como um músculo; quanto mais ele é ativado na infância, mais sensível ele fica. Crianças que sofreram abuso, por exemplo, costumam ter esse sistema muito sensível. É como um alarme automotivo que dispara toda vez que alguém encosta no carro. O menor dos estímulos pode desencadear um ataque de pânico, ansiedade, agressividade, ou qualquer que seja a reação. Isso pode perdurar até a vida adulta. A geração de Alemães que apoiou o nazismo de Hitler, viveram uma infância na qual o “conselho da moda” dado aos pais era de uma criação autoritária dos filhos. Na criação autoritária predomina a disciplina, alcançada através de punições (sejam físicas, castigos ou humilhações) e ameaças. Esse tipo de criação ativa o sistema FEAR do cérebro em desenvolvimento com muita frequência.

Na vida adulta, quando esse sistema continua sensível, há um medo irracional de ameaças externas. Para justificar esse sentimento, essas pessoas criam um inimigo, que pode ser, no caso da Alemanha nazista, os judeus, negros, etc… As pessoas se unem contra esses inimigos em comum, sentem-se parte importante de uma comunidade, sentem-se mais seguras. Onde há medo generalizado, há sempre uma pessoa (ou mais pessoas) disposta a usar isso para alcançar o poder. Hitler não teria sido tão bem-sucedido, e feito o estrago que fez, não fosse o apoio que recebeu das pessoas (lembrando que não foram todos os alemães que apoiaram Hitler; não é preciso que todos, ou mesmo a maioria, apoiem uma pessoa como ele para que ela seja bem-sucedida).

O mesmo acontece hoje em dia. Figuras totalitárias recebem apoio das massas por representarem um sentimento de segurança. Para uma pessoa com o sistema FEAR soando o alarme constantemente, é beneficial sacrificar sua liberdade em nome da segurança.

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A polarização é um fenômeno que costuma preceder um momento histórico traumático, guerras civis ou guerras entre países, por exemplo. Em pleno 2016, ela tem acontecido no mundo todo, acelerada pela internet e viabilizada pelo medo. No Brasil, ela se manifesta na forma dos times A e B, que seguem os pensamentos A e B mencionados acima. Não é preciso que você concorde inteiramente com um deles, se identificar em parte é o suficiente para ser acatado por um grupo e se tornar inimigo do outro; aos poucos a sua afinidade com esses ideais deve se intensificar.

Enquanto o time A e o time B brigam entre si, o pequeno grupo de pessoas no poder lutam por elas mesmas; fazendo alianças com quem lhes for conveniente, apoiando o time que lhe for conveniente, promovendo e executando ações que lhes são convenientes, tudo em nome da manutenção do poder. Quando mais intensa a polarização, mais facilidade essas pessoas têm de permanecer e aumentar seu poder, se preocupando somente com as falcatruas e picuinhas entre eles mesmos.

Enquanto a população brigar entre si e enxergar uns aos outros como inimigos, continuaremos em declínio. Quando aceitarmos diferentes opiniões e o constante debate como parte fundamental para a manutenção da democracia, as coisas tendem a fluir. A população mais crítica, unida e reflexiva é mais forte para se defender contra a manipulação de oportunistas em busca de poder.

 

debate1O que fazer?

– Reflita sobre si mesmo, sobre o motivo para suas opiniões e pontos de vista; busque ser mais aberto a novas informações e mais flexível; tente reconhecer os momentos em que seu julgamento foi afetado por heurísticas.

– Se relacione e converse com pessoas que pensam diferente de você. Mesmo que você não concorde com elas, tente entender porque essas pessoas pensam assim e acima de tudo, respeite-as.

– Pratique a empatia com mais frequência; tente sentir o que o outro sente, se colocar em seu lugar e imaginar como é essa realidade. Procure não enxergar outras pessoas como “inimigos”, mas como pessoas que viveram outras e experiências e discordam de você. Tanto ela quanto você podem mudar de ideia um dia e acabar descobrindo que têm muito em comum.

– Debata com pessoas diferentes. A única forma de validar um ponto de vista é tentando provar que ele está errado. Escute argumentos conflitantes e reflita novamente sobre seus conceitos. Você pode manter a mesma opinião, adaptar seu ponto de vista ou mudar de ideia completamente.

– Procure saber mais sobre um assunto antes de expressar sua opinião na internet. Use fontes com pontos de vista opostos para elaborar sua opinião.

– Tente ver o mundo como um espaço para a colaboração e não para conflitos.

 

Observação: eu não me excluo dessa lista. Tenho tentado seguir esses passos (é um processo contínuo) e acabei descobrindo muitas coisas sobre mim mesma, meus preconceitos e vieses, e também tenho aprendido muito sobre pessoas com vidas completamente diferentes da minha. Ainda tenho muito a aprender, mas sinto que a minha vida se tornou muito mais fácil e positiva depois desse choque psicológico e por isso recomendo.

Sobre o mau comportamento

diego2No ano passado, o vídeo de um menino de sete anos – vamos chama-lo de Diego – na cidade costeira de Macaé, no Rio de Janeiro, se tornou viral. No vídeo, o menino vira cadeiras, mesas, joga objetos pela sala, faz uma bagunça danada. Os professores ficam a sua volta, parados, sem saber o que fazer. Uma funcionária, acredita-se que seja a diretora da escola, diz: “Eu quero saber com a orientação educacional, com a assistente social, com a polícia, o que a gente faz com uma criança dessas?”. O vídeo foi compartilhado quase 30 mil vezes, recebendo mais de 23 mil comentários, muitos dos quais são perturbadores.

First comment: "lack of a beating"; second comment: "thank god my parents beat me up as a kid so today I`m not a worthless criminal or a thief, always respected everyone including my parents". Third comment laments that, in Brazil, psychologists and human rights restrain people from providing "proper education" (?) imposing limits to children.

First comment says "beat him up"; the other suggests he`s taken to a prison so the police would "freak him out".

Ainda no vídeo, um dos funcionários (talvez a diretora) instrui os outros a não tocarem na criança e esperarem até que sua mãe chegue na escola. “A gente não pode bater nele, não pode segurar ele”. Não, não pode; mas também não deve (voltarei a falar sobre isso mais para frente). O garoto acabou indo parar no Fantástico, onde os especialistas entrevistados lamentam o fato de professores se sentirem presos e não poderem impor limites em crianças como ele.

O que mais me chateia – além da grotesca exposição dessa criança – é que isso mostra o quão despreparados, não apenas pessoas em geral (incluindo pais e responsáveis), estão educadores, psicólogos e outros profissionais ao lidar com uma criança de comportamento difícil. E isso não é exclusivo do Brasil. No Reino Unido, em 2012, “mais de 40% dos pais admitiram ter punido fisicamente ou batido em uma criança no decorrer de um ano (…) e cerca de 77% gritou com os filhos” (Sunderland, 2016, p.178).

Eu não os culpo. A maioria dos pais aprendeu que se deve “disciplinar” os filhos para que eles se comportem bem. Eu também já pensei da mesma forma, mas eu tenho aprendido muito desde que me tornei mãe e trabalhando com crianças – e eu gosto de compartilhar aquilo que aprendo, então vamos lá. A seguir, explicarei porque crianças se comportam mal e o que fazer a respeito.

 

Pequenos cérebros, grandes emoções

Os seres humanos nascem com o lobo frontal subdesenvolvido. Trata-se da parte do cérebro responsável pelo pensamento claro e intenções. Isso significa que não nascemos com a habilidade de controlar nossas emoções. Nós aprendemos isso através de nossas conexões com os adultos a nossa volta, como familiares, educadores, etc. Dessa forma, o mau comportamento costuma ser resultado de um cérebro imaturo.

frontal lobe

Em contraste com o lobo frontal, desde o nascimento, a parte inferior do cérebro humano está funcionando completamente. Essa região do cérebro

“contém sete forças hormonais enormes – os sistemas emocionais geneticamente arraigados. Há três sistemas de alarme – RAGE (frustração, irritação), FEAR (medo) e PANIC/GRIEF (pânico, perda, angústia da separação) – e três sistemas calmantes, de bem-estar e pro-sociais – CARE (afeto), SEEKING (procurando, desejo, antecipação) and PLAY (brincadeira, alegria, despreocupação) – e, finalmente, LUST (acasalamento). Esses sistemas são como músculos, quanto mais os ativamos, mais eles se tornam parte da personalidade”. (Sunderland, 2016, p.19)

Para uma criança, pequenas coisas como cansaço e fome podem ser motivo para uma crise de mau comportamento. Por causa do lobo frontal desenvolvido, adultos possuem a habilidade de compreender porque estão irritados e ir buscar algo para comer, descansar, caminhar ou qualquer coisa que os faça se sentir melhor. Crianças precisam de um adulto que as ajude a entender e lidar com seus sentimentos. O que parece pouco para um adulto, para uma criança pode ser super estressante.

Quando crises de mau comportamento não são lidados apropriadamente na infância, elas podem continuar ocorrendo na vida adulta. Se você trabalha com atendimento ao cliente, provavelmente já se deparou com um desses adultos.

 

Motivos para o mau comportamento de acordo com Sunderland:

– Fome ou cansaço;

– Alimentação (açúcar, adoçantes e certos aditivos nos alimentos podem afetar o comportamento da criança);

– Cérebro emocional ainda pouco desenvolvido (conforme explicado anteriormente);

– Cérebro pouco estimulado (enquanto adultos podem ligar o rádio ou algo do tipo, crianças podem tentar estimular a si mesmos causando uma situação com seu comportamento);

– Necessidade de reconhecimento (crianças que estejam buscando a atenção de adultos podem usar o comportamento como uma forma de consegui-la);

– Necessidade de estrutura (falta de estrutura, como uma rotina clara);

– Necessidade de ajuda com um grande sentimento (tensão devido a um evento em particular na vida da criança);

– Absorvendo o stress dos pais;

– Parte errada do cérebro da criança sendo constantemente ativada.

O último ponto merece atenção especial, pois nesse caso é preciso que os pais, responsáveis ou educadores mudem sua forma de se relacionar com a criança. Sunderland explica que

“Um dos principais motivos que levam crianças a se comportarem mal é devido à forma como os pais se relacionam à criança, ativando a parte errada do cérebro. Você terá mais dificuldades com os filhos se a criação estiver ativando os sistemas RAGE, FEAR ou PANIC/GRIEF do cérebro inferior. Você terá momentos mais agradáveis se ativar os sistemas CARE, PLAY ou SEEKING”.

Gritar, punir fisicamente e ameaçar a criança com frequência irá superestimular os sistemas RAGE, FEAR e PANIC/GRIEF, tornando a criança mais suscetível a crises de mau comportamento; e não o oposto, como a maioria das pessoas comentando no vídeo do Diego parecem acreditar.

“Da próxima vez que estiver prestes a dar bronca em uma criança (normalmente por causa de um comportamento que você não gostou), pergunte-se se há uma forma mais gentil de se expressar – por trás de todo comportamento há uma necessidade emocional, e não é a necessidade de levar bronca”. (Suzanne Zeedyk)

Há dois tipos de crises de comportamento, a crise aflitiva e a de Pequeno Nero. Ambas devem ser levadas a sério e tratadas apropriadamente, de maneiras diferentes.

 

Crise aflitiva

Use your developed frontal lobe to control your emotions and deal appropriately  with a challenging child.

Use o seu lobo frontal desenvolvido para julgar a situação e lidar com a crise da criança apropriadamente.

“Uma crise aflitiva indica que um ou mais dos sistemas de alarme foi fortemente ativado. Esses sistemas de alarme são RAGE, FEAR e PANIC/GRIEF. Isso resulta no estado de alerta da criança se desequilibrando, com níveis excessivos de componentes do stress fluindo pelo corpo e cérebro”. (Sunderland, 2016, p.184)

Esse tipo de crise pede uma aproximação do adulto, para acalmar a criança. Segurar a criança com carinho, oferecendo palavras calmantes, ajudará a fazê-la se sentir segura novamente. Então, assim que a criança estiver se sentindo mais calma, a melhor coisa a fazer é distraí-la – com uma canção, mostrando algo interessante, etc.

Castigos e punições, isolar a criança em um quarto, ignorar ou não dar atenção a essas crises de comportamento pode ser prejudicial, podendo levar a crises mais longas e mais frequentes.

 

Crises de Pequeno Nero

Essa é bem diferente da crise aflitiva e pede uma resposta diferente. O adulto, nesse caso, deve dar menos atenção à criança. Essa crise reflete o desejo de manipular o adulto – quando a criança quer um doce, por exemplo, e tenta convencer os pais a compra-lo gritando e não cooperando. Se a criança consegue o que quer, ela continuará tendo uma crise toda vez que ouvir “não”.

Não adianta tentar argumentar, negociar ou persuadir a criança durante a crise de Pequeno Nero, pois só estará dando a ela a atenção que ela está pedindo. Não grite com a criança, pois ela irá aprender que esse é um comportamento aceitável.

Normalmente, a criança que está tendo uma crise de Pequeno Nero vai parar ao ser ignorada; ou quando compreender que receberá atenção do adulto quando estiver calma e pedindo algo educadamente. Entretanto, algumas vezes, uma crise de Pequeno Nero pode escalar para uma crise aflitiva. É importante saber distingui-las para que sejam lidadas corretamente. Se a criança muda de um comportamento onde ela dá comandos ou exige algo incessantemente para um estado de dor genuína, a criança precisará de ajuda para lidar com seus sentimentos.

Suzanne Zeedyk nos lembra que “mesmo crises de Pequeno Nero refletem uma criança tendo dificuldades ao lidar com seus próprios desejos; então, carinho sem limites” é sempre a melhor abordagem.

 

No caso de Diego, ele não estava exigindo nada; ele silenciosamente destruía a sala dos professores. Eu diria se tratar de uma crise aflitiva. Ele estava tentando lidar com um sentimento muito forte e não sabia como, resultando no seu comportamento destrutivo.

Pessoalmente, essa é a minha forma de lidar com a situação – apesar de haver outras formas de lidar com ela: eu o levaria (sem machucá-lo de nenhuma maneira) para algum lugar, provavelmente do lado de fora, onde ele não pudesse causar muitos danos ou se machucar. Eu usaria frases calmantes, como: “Está tudo bem; ninguém está bravo com você; não se preocupe; vai ficar tudo bem”. Eu esperaria ele se acalmar e me sentaria ao lado dele, talvez colocando uma mão no seu ombro ou costas (se ele deixar) para oferecer conforto. Eu então conversaria com ele, para tentar descobrir o que causou a crise. Perguntas simples, como: “Como foi o seu dia?” , podem ser bem elucidativas. Talvez houve um desentendimento com um colega, talvez ele sofreu bullying, ou talvez algo esteja acontecendo na casa do garoto. Pode ser que ele não diga nada ou queira falar sobre outra coisa, ou brincar. O importante é que ele agora está mais calmo e pronto para retornar a sua rotina.

É importante lembrar que para lidar com crianças com frequentes crises de comportamento é preciso muita paciência. Crianças precisam de tempo para aprender a lidar com seus sentimentos ou pedir ajuda a um adulto. E que gritar, punir fisicamente, isolar ou humilhar a criança não são métodos eficientes. Diego foi filmado e exposto a milhares de pessoas, muitas das quais expressaram o desejo de puni-lo agressivamente e usaram palavras ofensivas para se referir a ele (trombadinha, marginal, futuro criminoso, diabo, etc). Isso é um abuso (coletivo) verbal e emocional de uma criança; sendo essa uma das principais causas para crianças e adultos se comportarem inadequadamente. Eu espero que Diego esteja bem, mas eu não me surpreenderia se depois disso tudo o seu comportamento não tenha melhorado. Eu espero que um adulto sensato e carinhoso o esteja ajudando a lidar com seus sentimentos.

When children behave badly

diego2Last year, a video of a seven-year-old – I`ll call him Diego – in a coastal town of Rio de Janeiro state called Macae, in Brazil, destroying the teacher`s lounge of his school became viral. In the video, the child knocks down chairs, tables, throws stuff around, makes a huge mess. The teachers stood around him, not knowing what to do. One staff, thought to be the principal, is heard making comments like: “What do we do with a child like this? Call social services, correctional office, the police?”. It was shared nearly 30 thousand times on Facebook, receiving more than 23 thousand comments, much of which were disturbing.

 

First comment says "beat him up"; the other suggests he`s taken to a prison so the police would "freak him out".

First comment says “beat him up”; the other suggests he`s taken to a prison so the police would “freak him out”.

First comment: "lack of a beating"; second comment: "thank god my parents beat me up as a kid so today I`m not a worthless criminal or a thief, always respected everyone including my parents". Third comment laments that, in Brazil, psychologists and human rights restrain people from providing "proper education" (?) imposing limits to children.

First comment: “lack of a beating”; second comment: “thank god my parents beat me up as a kid so today I`m not a worthless criminal or a thief, always respected everyone including my parents”. Third comment laments that, in Brazil, psychologists and human rights restrain people from providing “proper education” (?) imposing limits to children.

In the video, one of the teachers (or maybe the principal), instructs the others not to touch the boy and wait for his mother to come and pick him up. “What can we do? We are not allowed to beat him or restrain him”. No, you are not allowed. But, also, you shouldn`t (I`ll talk about that in a second). The poor boy ended up in the news, and the experts interviewed regret the teachers feel they are not allowed to impose limits to children like him.

What upsets me the most – besides the gross exposure of this child – it`s that it shows how little prepared, not only people in general (including parents and carers), but educators, psychologists and other professionals are to deal with children with challenging behaviour. And this is not exclusive to Brazil. In the UK, in 2012, “more than 40 percent of parents admitted to physically punishing or hitting a child in the past year; (…) and around 77 percent yelled at their children” (Sunderland, 2016, p.178).

I don`t blame them, though. Most parents learned they were supposed to “discipline” their children in order for them to behave. I once thought the same way, but I`ve been learning a lot since I became a parent and by working with children – and I like to share things I learn, so here we go. Here`s why children misbehave and what to do about it.

 

Little brains, strong emotions

Humans are born with an underdeveloped frontal lobe, which is the part of the brain responsible for clear thoughts and intentions. This means we`re not born able to control ourselves, we have to learn it. And they usually learn through their connection with parents and cares – and also other adults around them, such as family members, educators, etc. So most misbehaving is a result of an immature brain.

frontal lobe

In contrast with the frontal lobe, from the moment we are born, our lower brain is fully functional. This area

“contains seven huge hormonal forces – the genetically ingrained emotional systems. There are three alarm systems – RAGE, FEAR and PANIC/GRIEF – and three calm and well-being, or pro-social systems – CARE, SEEKING, and PLAY – and, finally, LUST. These systems are like muscles. The more we activate one of them, the more it becomes part of the personality”. (Sunderland, 2016, p.19)

For a child, little things like hunger or tiredness can be a reason for a tantrum, or an outburst of misbehaviour. Adults are more able to understand why they are irritated and go get some food, rest, take a walk or whatever they know will help them feel better. Children need an adult to help them cope with their feelings. What seems like a small thing for an adult can be overwhelming for a child.

When tantrums and misbehaviour are not appropriately addressed in childhood, they might continue later on in adult life. If you work in customer service, you probably know what I`m talking about.

 

Reasons for misbehaviour according to Sunderland (2016):

  • Hunger and fatigue;
  • Food (sugar, sweeteners and a number of additives can affect children`s brains);
  • Undeveloped emotional brain (as previously explained);
  • Understimulation of the brain (while an adult might turn the radio on, children might stimulate their own brains by causing a situation);
  • Recognition hunger (children might be seeking adult attention and realises a tantrum gets a reaction);
  • Need for structure (a lack of structure, like a clear routine);
  • Needing help with a big feeling (tension due to a particular event in the child`s life)
  • Picking up on parent`s stress;
  • Wrong part of the child`s brain being activated.

This last one deserves especial attention, because it requires parents, cares and educators to change their approach. Sunderland explains that

“One of the main reasons why children behave badly is because the way a parent is relating to a child is activating the wrong part of the brain. You will have an awful time with your child if your parenting activates her lower brain RAGE, FEAR, or PANIC/GRIEF systems. You can have a delightful time if you activate her lower brain CARE (attachment), PLAY or SEEKING systems”.

Frequent yelling, physical punishment and threats will overstimulate the RAGE, FEAR, or PANIC/GRIEF systems, making the child more susceptible to bad behaviour and tantrums, and not the opposite as most people commenting on Diego`s video seem to believe.

“Next time you find yourself about to speak sharply to a child (usually for some bit of behavior you didn’t like) ask yourself if there is a gentler way you could convey your thoughts – because underneath all behavior is an emotional need, and it isn’t a need to be told off.” (Suzanne Zeedyk)

There are two types of tantrums, the distress ones and the Little Nero tantrums. They need to be taken seriously and require different responses.

 

Distress tantrums

“A distress tantrum means that one or more of the three alarm systems has been very strongly activated. These alarm systems are RAGE, FEAR and PANIC/GRIEF. As a result, your child`s arousal system will be way out of balance, with excessively high levels of stress chemicals searing through his body and brain”. (Sunderland, 2016, p.184)

These type of tantrums require the adult to get closer to the child, soothe her. Holding the child tenderly, offering calming words, will help her feel safe again. Then, once the child has calmed down, the best thing to do is to distract her – with a song, showing something interesting, etc.

Use your developed frontal lobe to control your emotions and deal appropriately with a challenging child.

Use your developed frontal lobe to control your emotions and deal appropriately with a challenging child.

Time-out techniques, putting a child in a room by herself or ignoring or disregarding this kind of tantrum can be harmful, possibly leading to longer, more frequent tantrums.

 

Little Nero tantrums

This is very different from the distress tantrums and requires the adult to react the opposite way, giving less attention to the child. This tantrum is about the desire to manipulate the adult – when a child wants sweets, for example, and tries to convince her parents to buy them by screaming and not cooperating. If the child gets what she wants, then she`s going to keep on doing it every time you say “no”.

There`s no point trying to argue, negotiate, reason or persuade the child, as that would grant her the attention she`s after. Also, don`t yell, as the child will learn this is acceptable.

Normally the child having a Little Nero tantrum will stop once ignored. Although, some children might move from a Little Nero tantrum to a distress tantrum. It`s important to distinguish them so they can be addressed correctly. If a child goes from nagging or giving you commands to a state of genuine pain, the child will then need help dealing with her feelings.

Suzanne Zeedyk reminds us, though, that “even Little Nero tantrums are still a child struggling with desire; so kindness without boundaries” is always the best approach.

 

When it comes to Diego, as he wasn`t demanding anything, he was quietly wrecking the room, I`d say he was having a distress tantrum. He was having to deal with really strong feeling and didn`t know how to, which resulted in the bad behaviour.

This is my personal approach to a situation like this, what I would do – though there are other ways of dealing with the situation: I`d take him (making sure I`m not hurting him in any way) somewhere, probably outside, where he can`t do much damage to property or himself. I`d use calming words such as “it`s ok; nobody is mad at you; you are ok; it will get better”, etc. I`ll wait for him to calm down and sit next to him if he lets me, maybe put my hand on his shoulder or back for reassurance. Then I`d talk to him and try to understand what triggered the tantrum. Simple questions like “how was your day” can lead to very elucidating answers on what could have winded up the child. Maybe there was a misunderstanding with other children, maybe he was bullied, maybe something is going on at home. He might not talk to me this time, or might prefer to talk about something else, or play a game. What matters it`s that the child calmed down and is now able to return to his routine.

It`s important to remember that dealing with children who often behave badly requires a lot of patience. It takes time for them to learn how to ask an adult for help and cope with their feelings. And that yelling, physical punishment, isolation and humiliation are not effective. Diego was filmed and exposed to thousands of people, many of them expressed the desire to physically punish him, and many others used unkind words to refer to him (calling him a future criminal, devil, rascal, etc). That`s collective verbal and emotional abuse of a child; one of the main causes for children and young adults to behave badly. I hope Diego is ok, but I wouldn`t be surprised if his behaviour hasn`t improved. I hope a sensible, caring adult is helping him deal with his feelings.