Depois de amarrar precariamente o saquinho do Sonda, saí para o Hall do andar e apertei o botão do elevador para levar o lixo para baixo. Meu prédio não tem uma lata de lixo por andar, a coleta é feita toda no térreo e os barris de plástico estão sempre cheios. Me distraí por um instante e, quando me dei conta, havia um sujeito parado ao meu lado. Julguei ser um vizinho esperando o elevador e cumprimentei-o, sem me virar completamente. O sujeito era pálido e tinha cabelos pretos, como pude observar pelo canto do olho, e pareceu não me responder. Sabe como são essas conversas de Hall de elevador, mais murmúrios que palavras. Esperaríamos até entrar na caixa metálica para mencionar o tempo, é claro.
Quando o elevador chegou, entrei e me virei para a porta. O sujeito não entrou, continuava fitando a porta aberta e, consequentemente, me observava do lado de dentro. Notei seu olhar vazio, olhos claros e uma roupa casual. Imaginei que estava esperando alguém, a esposa, talvez, e não perguntei se entraria. Apertei o botão do Zero e as portas se fecharam automaticamente. Já no térreo, deixei o lixo rapidamente e voltei ao elevador, que continuava parado. Ninguém o havia chamado. Apertei o botão do quinto andar e esperei ver meu vizinho novamente, já que aquele era o único elevador do bloco.
Quando as portas se abriram, não havia ninguém no hall. Foi quando me veio um pensamento tenebroso que me fez andar apressada até a porta do meu apartamento, chegando a correr um pouquinho ao final e fechar a porta com violência. Meu marido, assustado com o barulho da porta batendo, veio até a sala e se deparou com a minha expressão sombria. Ele nunca tinha me visto daquele jeito e perguntou o que eu tinha.
– Eu vi o Mesmo – respondi – tenho certeza.