A conta do sofrimento masculino com a emancipação feminina chegou, e ela se chama seleção natural. É isso, meu caro darwininsta, a evolução da espécie prossegue, quer você acompanhe, quer não. Quem não se adapta às mudanças do meio ambiente vai se perdendo na seleção natural. Mas, como Darwin defendeu – e talvez você tenha perdido essa parte do darwinismo ao perder seu tempo defendendo sua simplificação interpretada por Herbert Spencer – a sociabilidade é de suma importância para se obter vantagem evolutiva; formar conexões é tão importante quanto acasalar para a sobrevivência da espécie. Então, não se preocupe, nós feministas não o deixaremos para trás.
Vamos começar com alguns esclarecimentos. Em sua coluna, você pergunta: “O que será o homem do século 21?”. Ele continuará sendo homem, igualzinho antes. A gente só espera que ele seja mais empático, e isso serve para as mulheres também.
Tenho que discordar de que “à medida que se torna mais inteligente (…) mais ele ficará interessado em si mesmo”. Ao que tudo indica, quanto mais inteligentes, mais interesse temos nos outros. Isso não é um discurso feminista cheio de mimimi; estou falando de neurociência, psicologia social, teoria do apego. Vou explicar melhor.
No estudo do desenvolvimento infantil, sabe-se que as crianças mais bem apegadas – que possuem figuras de apego, como a mãe, pai ou outro adulto significativo – se tornam mais inteligentes (Sunderland, 2016) (Rifkin, 2009) (Mooney, 2010). Isso ocorre porque, ao se sentirem seguros, os bebês e as crianças estão livres para explorar e aprender; sem o stress da autopreservação, já que um adulto está cuidando disso para eles, há mais espaço para o cérebro se desenvolver (Zeedyk).
Em um experimento famoso desenvolvido por Harry Harlow, macaquinhos bebês tiveram as mães substituídas por uma mãe postiça. Metade deles recebeu uma mãe de pano, bem confortável, e a outra metade uma mãe de fios, menos agradável para se aconchegar. Ambas as mães davam leite, para que os macacos fossem nutridos adequadamente. Os macacos com as mães de pano sobreviveram com muito mais sucesso que os macacos com as mães de fios, mesmo quando o leite deixou de ser oferecido. O experimento demonstra a importância de o bebê se sentir seguro e conectado para sobreviver, algo que é semelhante em todos os mamíferos.
Quanto mais apego, mais carinho ela recebe, mais inteligente e resiliente se torna a criança, além disso, ela se torna mais empática. E a empatia é parte essencial na máquina evolutiva de nossa espécie. Sem ela, nos destruímos uns aos outros, sem nos preocupar com os sentimentos de nossas vítimas.
De fato, se a procriação fosse a principal chave da sobrevivência da espécie humana, como explicaríamos a homossexualidade? Fosse assim simples, os genes que determinam predisposição para a homossexualidade já teriam sido extintos na seleção natural, já que a procriação é rara em relacionamentos homo afetivos. A ativação dos “genes gays” ocorre como uma ferramenta de sobrevivência, de acordo com o Dr. James O’Keefe. Quando há um desequilíbrio de gêneros na população, nascem mais gays. Isso ocorre porque, como expliquei anteriormente, nós dependemos de afeto, de relações sociais e conexões para sobreviver. Quanto mais filhos homens uma mãe tem, maiores as chances de o próximo ser gay. O quinto filho homem tem 33% mais chances de ser gay que o primeiro.
Então, quando você diz que as meninas partirão “para a experimentação lésbica por puro desespero”, você está errado. As lésbicas serão lésbicas, as hétero serão hétero. E trans não é moda. Toda essa comunidade LGBT vem de uma ativação genética que a mãe natureza talhou com o maior cuidado para ajudar a nossa espécie. O mesmo gene que determina a homossexualidade também determina maior capacidade para inteligência emocional. O’Keefe explica que, as pessoas que tiram as notas mais altas nos testes de inteligência emocional têm mais de 50% de probabilidade de ser gay. É o gene da empatia.
A homofobia é, portanto, uma afronta à evolução. Isso também vale para o machismo, racismo e todos os tipos de discriminação que indicam um baixo nível de empatia, de consideração pelo bem-estar alheio. O feminismo luta a favor da evolução, das conexões, da empatia, do bem-estar coletivo. E, não se preocupe, nós temos parceiros, maridos, namorados, filhos. Não somos essa figura estereotipada que você pinta em seu artigo.
Agora, vamos combinar, ser darwinista e depois fazer, no mesmo texto, um comentário criacionista é meio contraditório. Também é contraditório dizer que homem é complexo e listar as fantasias sexuais mais cliché da caixa de prazeres. Talvez quem está precisando fazer experimentações sexuais é você, Pondé. Vai lá se descobrir, seja sozinho ou com uma mulher que confie e respeite, e tenta dar uma relaxada. A mudança acontece mesmo, não precisa entrar em pânico. Embarque na evolução que nós não queremos te deixar para trás. Nós só estamos pedindo respeito e igualdade para todos.
E é claro que vamos respeitar seus sentimentos, até mesmo seu temor pelo fim da espécie; mas preciso te lembrar, também, que o ocidente não é mercado de carne, e mulher não é filé para você ir lá catar uma que satisfaça o seu apetite. Até entendo você estar invejando os homens de sociedades menos igualitárias, mas tenho fé em você e a certeza de que você supera isso.
Também vale lembrar que doçura não quer dizer submissão. E submissão é a única característica que você não vai encontrar em mulheres feministas.
Muito bom, Susan.
Ameiiiiiiii
Vrrrráááááááááás
Obrigada, Susan!!
Belo texto!!!
Agradecida por representar a voz de todas as mulheres na resposta ao artigo de Pondé que, visivelmente, é ofensivo e ignorante. Muito bom!
Frau Witte
não é com estes experimentos de amebas partenogenéticas que se explica a decadência da cultura. O cavalheiro morreu e o dandy ainda não? Pede respeito e desrespeita o Ponde? O que é LGTB? Uma salada de discriminados? O tema é mais complexo! Espelhe-se em Arendt. Este seu artigo não vale nada. E mais: em um ponto homens e mulheres concordam.
Frequentemente o Pondé solta algumas pérolas que necessitam de um contra-ponto. Ele “acha” muito e parece que não tem certeza de muitas coisas. Alias, ele sempre opina sobre muitas coisas …
Este exercício da crítica, da réplica, da tréplica é muito bom.
Parabéns pelo texto, Susan!